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O Guerreiro do Inferno

Dizem que quando uma pessoa morre e vai para o inferno o sofrimento e o terror tomam conta de sua nova vida eternamente. Além disso, sair do inferno, ou melhor dizendo, fugir do inferno também é considerado um ato impossível. Ou pelo menos já foi um dia...

Diz a lenda que nos tempos da escravidão, um negro escravo capoeirista fez um pacto com o diabo por sua liberdade na terra. O que ele não sabia é que nenhum pacto com o anhangá tinhoso dá vantagem àquele que o procurou. Não, todas as vantagens são sempre do coisa ruim.

E assim, o escravo capoeirista, tomado por fúria e sede de sangue lutou e matou até seus últimos dias pela tão sonhada liberdade que o diabo prometera. Sem um pingo de remorso em todos os confrontos que buscou, com a morte espreitando a todo momento, ele finalmente chegou ao derradeiro. O vislumbre de sua realidade dentro do pacto com o maligno soergueu aos seus olhos na arma disparada pelo capitão do mato que o emboscou. Três tiros e sua alma foi tragada para o inferno.

O tempo no inferno funciona diferente do tempo na terra. Na verdade, ele passa bem mais lentamente. Cada ano na terra, no inferno parecem três. Imagine cento e cinquenta anos da terra vivendo no sofrimento no inferno. Quatrocentos e cinquenta anos é muito tempo para sofrer, mas também para pensar, aprender e se preparar. E conhecer pessoas e demônios suficientes com o objetivo de colocar um plano bem elaborado em prática.

Justino, o negro capoeirista, apesar de nunca ter sido uma pessoa ruim em vida a não ser após fazer o pacto, galgou algumas “patentes” no inferno o que o levou a diminuir sua carga de sofrimento, mas também o fez infligir sofrimento às “pobres” almas que lá chegavam. Mas como eu disse tudo visando um plano bem maior. Até que chegasse o Dia.

No fim de mais uma rotina diária de torturas, preparando-se para o seu horário como torturado – claro, o capeta não vai deixar ninguém sem sofrimento por mais que tenha algum grau na hierarquia do inferno –, Justino se junta a outros três companheiros no caminho.

“Pronto para correr Justino?”

“Como nunca na vida, Jean.”

“Isso se aquele demônio sujo do Ravial não tiver mentido para nós.”

“Você tinha uma ideia melhor, Gianluca?”

“Não se trata disso, Justino. Se trata do que você sempre falou para nós, da esperança da sair desta porcile.”

“Te acalma Gianluca, vamos seguir o plano. Se não der certo o que de pior pode acontecer? Continuar no inferno?”

“É isso mesmo, Justino está certo. Eu ainda tenho esperança de voltar a Pearl Harbour e tomar um banho naquele mar onde morri.”

“Vai conseguir John.”

Os quatro homens chegam a cela de tortura do demônio Ravial.

“Demoraram idiotas. O tempo é curto. Andem logo.”

“Devagar aí Ravial, onde estão as relíquias para que possamos sair?”

“Aqui estão. Estes quatro anéis lhes darão poder para atravessar a passagem. Assim que chegarem lá espalmem a mão na direção do símbolo na pedra e o vórtice abrirá. Cada um irá para o local onde vivia antes de morrer.”

“E depois?”

“Depois é problema de vocês. Lúcifer deve enviar alguns agentes para destruí-los ou captura-los. Mas isso é problema de vocês. Fodam-se.”

“Você nunca disse o que ganharia com isso, Ravial.”

“Não disse mesmo.” – responde o demônio.

Neste momento o som de trombetas toma o ambiente.

“Pelo toque das trombetas vocês estão encrencados.” – diz o demônio sarcasticamente.

“Vamos embora.”

Abandonando a cela de Ravial os quatro homens se põem a correr em direção às vias infernais, as “estradas” do inferno que levam a vórtices e passagens para outros planos.

Ouvindo a todo momento o som de perseguição os fugitivos imprimem o máximo de velocidade possível em sua fuga.

Já avistando a pedra descrita por Ravial eles ouvem os latidos furiosos dos cães do inferno.

“É agora ou nunca, se os cães nos alcançarem tudo terá sido em vão.”

Acelerando ainda mais os homens chegam a pedra já empalmando suas mãos com os anéis em sua direção. O vértice se abre num clarão e os quatro são tragados pela força de sua abertura.

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Em algum lugar do Rio de Janeiro, o negro Justino se vê no meio de uma estranha construção lotada de gente gritando e pulando ao seu lado de uma forma tão ensandecida que ninguém percebeu seu estranho aparecimento ali no meio.

Ele olha ao redor tentando descobrir onde está, mas só entende vagamente o que as pessoas gritam ao seu lado. Algo como “Vamos Flamengo, vamos ser campeão” E a sua frente um campo gramado com homens correndo de um lado a outro. Ele sente seu corpo fremir com o estranho evento e, deixando este novo sentimento mesclar-se a sua felicidade por ter conseguido fugir do inferno, passa a entoar os mesmo gritos de guerra e a pular junto com as pessoas ao seu lado acompanhando o espetáculo no campo gramado lá embaixo.

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“Mestre tivemos uma fuga de quatro desgraçados.”

“Eu sei Belial.”

“O que quer que eu faça, meu senhor? Que descubra e puna os culpados?”

“Não Belial. Está tudo correndo como eu quero. Certo, Ravial?”

“Sim meu mestre.”

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“Miguel.”

“Sim Raphael?”

“Sentiu o tremor na interseção planar?”

“Senti.”

“Sabe o que significa?”

“Sei. Os quatro anéis do apocalipse e suas armas tem novos donos e eles estão na terra de novo.”

“Mas há um divergente entre eles.”

“Sim, sei disso. Um deles deveria ter se tornado um guerreiro de Deus.”

“Na verdade tudo está acontecendo como Deus quer, meus irmãos.”

“Certeza Gabriel?”

“Sim. Ele deve se tornar um guerreiro do inferno para lutar contra o inferno.”

“Uma grande antítese meu irmão.”

“São os caminhos traçados por Deus. E não devemos impedir nada do que acontecerá, pois sua luta e sofrimento ainda não acabou. Embora sua redenção tenha começado. E dela dependerá o destino da humanidade.”

“Então só podemos torcer que o negro Justino cumpra seus desígnios da forma como foram escritos.”
 
Léo Rodrigues
Enviado por Léo Rodrigues em 12/09/2020
Alterado em 12/09/2020
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