Portal Literário

A entrada para uma nova literatura!!!!

Textos

O Traidor
 
Portal do Inferno. Ponto de apoio Praia do Futuro. Fortaleza.

“O que você quer que eu diga, Ramos? Que errei ao recrutá-lo?”

“Não, porque eu sei que você não errou. Você dificilmente erra coronel. Você o expos. Não era este o seu plano?”

“Era. Eu só não poderia contar que ele conseguiria aliados aqui dentro.”

“Dinheiro mexe com o caráter das pessoas Coronel. Ou você acreditou mesmo que todos que recrutássemos seriam incorruptíveis? De qualquer forma eu gostei bastante de tudo que aconteceu.”

“Já até imagino porquê.”

“Você sempre foi inteligente Coronel. Chegou a hora de pegar este traidor.”

“Concordo. Vai querer apoio?”

“Não Coronel. Este capitão de merda eu vou caçar sozinho. E estripá-lo como um porco.”

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Praia de Morro branco. Beberibe. Em uma casa de veraneio qualquer.

“Este lugar é lindo demais. Que bom que pudemos vir para cá.”

“Concordo Valesca, mas temos muito trabalho a fazer ainda.”

“Eu sei, mas podemos fazer os dois: trabalhar e aproveitar.”

O casal entra no quarto e a mulher segue para o banheiro.

“André, pode vir aqui um minuto?”

“Estou indo.”

Quando André entra no banheiro recebe um tiro no joelho e cai.

“Maldição.”

“É, meu nobre safado, eu sou sua maldição mesmo. Aliás a maldição dos dois.”

Anderson Ramos, que havia rendido Valesca, desfere uma coronhada na nuca da ex agente tirando-a de combate.

“Fala aí vagabundo, onde eu encontro o safado do teu primo?”

“Tá achando que sou x-nove?”

“Não. O x-nove é ele. Você é só um babaquinha metido a fortão. Só músculos, nada de cérebro. Não sei o que o Coronel viu em você para recrutá-lo. Também não entendo como a Valesca foi se envolver contigo."

“Desgraçado. Covarde. No mano a mano você estaria quebrado agora.”

Anderson desfere outro tiro, agora no ombro de André, que grita outra vez.

“Não adianta gritar igual puta. Ninguém vai vir te socorrer. Abre o bico logo. Onde ele está?”

“Não vou... não vou falar.” – diz André conseguindo sentar-se encostado na parede.

“Entendi. Você é leal ao seu priminho, não é? Acho que a Valesca vai abrir o bico quando acordar. Tenho quase certeza que ela tem mais vontade de viver do que você.”

“Eu duvido que ela fale. Nós saímos do PI, seu idiota. Optamos por viver outra vida. Acha que ela vai falar?”

“Bom, quando ela souber que se não abrir o bico eu vou matar o filho de sete anos dela, sim, acho que ela vai falar. – e diante da expressão incrédula de André. É, Andrezinho, nem tudo é o que parece. As pessoas tem alguns segredos. E eu adoro descobri-los. Algum recado para o seu primo?”

“Vai pro inferno.”

“Você primeiro.” – o tiro é certeiro na cabeça do primeiro traidor da lista.

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Quarto 401. Maredomus Hotel. Praia de Iracema. Fortaleza.

Retornando de mais uma missão bem sucedida na cidade, Alice vislumbra a possibilidade de tomar uma ducha rápida e sair para jantar, mas ao entrar no quarto ela ouve o clique de uma arma sendo engatilhada.

“Ramos?”

“Quem mais, não Alice?”

“Me achou rápido. Vou ser presa ou morta?”

“O que você acha? Vire-se devagar sem movimentos bruscos e sente-se. Eu não quero meter uma bala em você, mas não testa sua sorte.”

Ela se vira, senta e coloca sua arma no chão.

“Sem resistência?”

“Que chance eu teria contra você? Não sou burra nem idiota.”

“Idiota não, burra sim. Abandonar o PI para trabalhar com aquele capitão de bosta da força aérea é burrice demais. O Coronel queria expô-lo e acabou expondo mais alguns. No que você estava pensando?”

“De verdade? No que fiz em Munique.”

“Eu resolvi aquilo.”

“Mas não resolveu aqui. – ela aponta para a própria cabeça. Eu pensava naquilo todo dia. Executei ordens que eram pessoais. Matei por convicção profissional para um filho da puta que tinha interesses pessoais.”

“E agora se trata de que?”

“Compensar. Abandonar o PI com algo sólido.”

“Virar mercenária traindo seu país?”

“Só você ainda acredita neste país, Anderson Ramos.”

“Alguém precisa acreditar.”

“O que você quer afinal? Quer saber onde o capitão está?”

“Exatamente.”

“A Valesca está viva? Porque se ela estiver é melhor me matar porque eu vou atrás dela, porque com certeza foi ela quem te deu minha localização.”

“Disso eu não duvido. Mas é problema seu, não meu. Onde está o capitão?”

“Eu ia jantar com ele no Coco Bambu.”

“Igual namoradinhos? Qual deles?”

“O da Beira Mar. E agora, o que acontece?”

“Agora Alice, por Munique, eu vou sair por aquela porta e só vou lembrar da tua traição se você resolver ir atrás da Valesca.”

“Protegendo-a?”

“Tu acha mesmo isso?”

“E o que eu fiz aqui?”

“Tem rastro?”

“Pode ter.”

“Penso nisso se e quando aparecer.” – diz ele indo em direção a porta.

“Quem diria...”

“Não me faça voltar atrás.” – responde ele interrompendo-a e abandonando o quarto.

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Coco Bambu Beira Mar. 21:30 hrs. O traidor do Portal do Inferno, ex militar da Força Aérea Brasileira, e como Anderson Ramos gosta de chama-lo, Capitão x-nove Gonzaga, é conduzido à mesa reservada para seu jantar. Ele observa o ambiente a fim de certificar-se se não há nada errado, senta-se e pede o cardápio.

Passam-se alguns minutos, seu jantar chega, mas sua companhia não. Provavelmente ela não conseguiu cumprir a missão. O que não será exatamente um problema, agora que ele tem acesso a todas as informações vitais que ele precisava para tornar seu plano viável. Sem se preocupar com o destino de Alice, Gonzaga começa a jantar.

Após jantar, o capitão resolve dar uma esticada na noite de Fortaleza. Na boate mais badalada da cidade ele se refestela com tudo do bom e do melhor que o dinheiro pode comprar. E como o dinheiro compra tudo que é possível, ele também consegue uma bela jovem estrangeira para acompanha-lo da boate até o quarto de hotel onde ele se encontra hospedado. Aos beijos e amassos ele entra com a jovem no quarto num frenesi tamanho que a jovem começa a conter seus avanços.

“Calma querido. Temos muito tempo. A noite é nossa.” – diz ela num português cheio de sotaque.

“Como conter a vontade diante de uma mulher como você?”

“Você quer dizer diante da única mulher bonita que você já conseguiu na vida, não é vagabundo?’

Ele conhece a voz. E para seu total aparvalhamento a mulher o estoca com uma seringa no pescoço. Com o líquido entrando em sua corrente sanguínea seu corpo amolece e ele cai de joelhos.

“Ah bobinho, achou mesmo que eu iria dar mole para alguém como você? É todo seu, Ramos.”

“Obrigado Nikki.”

“Nikki?” – pergunta o capitão grogue.

“Sim, paspalho, Nikki Karel, da Defesa Belga. Uma velha amiga.”

“Foi um prazer trabalhar contigo novamente, Ramos. Eu vou dar prosseguimento nas medidas de contenção aos vazamentos do teu amigo aí e te dou retorno quando voltar à Bélgica.”

“Obrigado Nikki. Prometo que te pago um jantar quando estiver pela Europa.”

“Eu vou cobrar. In orde zijn.” – diz Nikki saindo do quarto.

“Você também. Agora nós. Você achou mesmo que ia se safar?”

“Se eu não estivesse tão grogue...”

“Se não estivesse tão grogue não ia mudar nada. Seu x- nove. Você acha que foi recrutado para o PI porquê? Porque era bom? Eu sempre soube do que você fez na força aérea. Sempre foi uma vergonha. Sempre dando com a língua nos dentes para prejudicar os outros. Você nunca honrou a farda da aeronáutica, Gonzaga, nunca. Seus companheiros de turma nunca gostaram de você. E muitos deles tem vergonha de dizer que são da sua turma de formação. Não. Você não foi recrutado para o PI por suas capacidades, você foi recrutado para ser exposto, mas devo reconhecer que você não é tão burro assim. Conseguiu montar uma rede interessante antes que pudéssemos te pegar. Mas agora já era, porque temos todas as provas do que você aprontou na força aérea, além de sua traição ao PI.”

“Você fala demais, Ramos.”

“Só o suficiente para acabar o efeito da tua sedação. Eu não gosto de bater em cachorro morto. Levanta pra gente sair na porrada.”

De fato, Gonzaga sente que o efeito da sedação praticamente já foi todo embora e levanta-se confiante de que vai conseguir êxito contra Ramos.

“Vai me encarar armado?”

“Acha que sou você?”

Ramos desengatilha suas pistolas e as larga no chão.

“Ficou bom para você agora?”

“Assim está ótimo”

Gonzaga parte para cima de Anderson Ramos no intuito de encurtar a distância e impedir a movimentação da capoeira do implacável. Na primeira troca de golpes ele reduz o range para impedir Ramos, mas não o suficiente para ter vantagem na luta. Ele tenta golpes em cima e embaixo da guarda de Ramos e não consegue um encaixe. O Implacável sorri para ele.

“Tão inocente.” – ironiza Ramos.

Gonzaga tenta mais uma investida com um bom jogo de pernas e no meio do giro ele puxa uma faca de dentro do paletó e arremessa em Ramos. Não fosse por saber do que o capitão é capaz e por seus reflexos apurados, Anderson Ramos poderia ter sido atingido, mas ele não é o melhor à toa. Ele esquiva da faca, segura uma das pernas do oponente e atinge o joelho da perna base. O barulho do estalo evidencia sua quebra. Na sequência ele larga a perna deixando que o capitão caia no chão, gira e atinge sua cabeça com um chute bem colocado.

“Isto é pelos seus ex companheiros de força aérea. Eles iriam adorar saber que você recebeu o que merece.”

Em seguida, Ramos puxa das costas sua velha faca e numa ação rápida a crava na garganta do traidor.

“E isto é pelos agentes do PI que morreram por sua traição, Capitão x-nove Gonzaga.”

Ramos abandona o quarto deixando para trás o capitão traidor agonizando e engasgando com o próprio sangue.

Na manhã seguinte, o Capitão Silvano recebe um e-mail com o link de uma matéria de jornal em que relata o suicídio de seu companheiro de turma, capitão Gonzaga. Com um pequeno sorriso se alargando em seu rosto ele murmura consigo mesmo:

“A justiça divina existe, mesmo quando é feita pela mão dos homens.”
Léo Rodrigues
Enviado por Léo Rodrigues em 08/07/2020
Alterado em 08/07/2020
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