Seguindo em seu caminho pela vasta imensidão da galáxia o nobre guerreiro da balança prossegue mais uma vez sozinho em seu objetivo de combater as forças da Falange de Rayss. Um novo Mjala, mais poderoso que Kossal, surgiu em meio ao caos da Guerra de Urbhan. A simples lembrança da guerra estremece o guerreiro. Tantos amigos que pereceram antes, durante e mesmo depois do confronto com a Falange e mesmo assim, ao final de tudo, percebeu-se que não passou de um engodo. Uma maneira para este novo Mjala testar a capacidade combativa de seus adversários. Chegando ao planeta Girkan, duzentos e cinquenta anos luz após a orla eletromagnética de Jihad, Armageh pousa sua Darkslash e se prepara para seguir ao vulcão extinto de Gorimash, um antigo altar da Falange de Rayss, onde, se seus instintos não estiverem errados, ele encontrará a nova Tríade e o Mjala, mas ele nem precisa iniciar seu deslocamento. A terra simplesmente explode a sua frente e só não o arremessa contra a fuselagem de sua nave porque sua magia não permite. “Seja bem-vindo a seu túmulo, Armageh.” “Você fala demais, maldito. Muita coisa ainda há de acontecer antes que você consiga seu intuito, mas minha morte não é uma delas.” “Tolo. Você não conseguirá me impedir. Sabe porque? Porque minha Tríade de Ares Kalar é a mais forte de todas e sua compaixão pelos três nobres guerreiros que a hospedam não permitirá.” – ele gargalha. Armageh sabe que o Mjala tem razão. Se ele fosse matar os guerreiros da Tríade teria feito isso em Urbhan, mas ao invés disso ele correu a galáxia buscando conhecimento para libertá-los. E agora está ali para tentar algo que pode ceifar-lhe a vida. “Armageh, tu não matarás sangue do teu sangue, assim como meu tio não pode matar meu irmão.” “É por isso que nós vamos ajuda-lo.” Por trás do Mjala três figuras imponentes surgem. O Mjala se vira e pela primeira vez em tanto tempo desde a Guerra de Urbhan ele sente um tremor em sua força em Rayss. A visão daqueles três homens, principalmente aquele que carrega pendurado às costas seu bom e velho Ty-Cannon, lhe traz a certeza de que esta batalha será derradeira para um dos lados. “Eu disse para não virem atrás de mim.” “E desde quando eu te abandonaria, Coronel?” – diz Sônico, o Implacável Anderson Ramos. “Eu muito menos Coronel.” – responde Darkman o guerreiro Valarys de armadura negra, também conhecido como Cavaleiro da Lua. “Meu irmão merece umas surra, Coronel. Para aprender que a família, a minha família, segue os princípios da Balança.” “Que bom que tenha se lembrado disso, Alkan.” “Patéticos. Nada impedirá meu triunfo. Guerreiros da Tríade, vamos beber o sangue de nossos inimigos e iniciar por eles o domínio da galáxia. Pela Falange de Rayss.” – diz o Mjala convocando seus guerreiros e se lançando contra Armageh. Enquanto o Mjala e Armageh iniciam sua batalha, os três guerreiros possuídos partem para cima dos outros. Os três guerreiros Valarys que servem como “casca” para a possessão se dividem em ataques um a um. O Valarys Raken confronta Darkman que nem pensa na possibilidade de estar enfrentando um Valkarish, pois se pensar como o Coronel pensou no passado ele não conseguirá seu intuito. Ele puxa a Espada da Lua e foca em sua mente que está lutando contra um demônio e não contra um antigo companheiro, um também descendente de Valkar. O Valarys Reis, um dos jovens recém formados na época da guerra parte para cima de Alkan, que empunha sua antiga espada Hadar, lembrando os tempos em que um dia ele foi um Combatente Hadar lutando ao lado de seu tio contra tudo e contra todos. O Valarys Militão, o sobrinho do Coronel Antonio Rodrigues decide enfrentar seu amigo, Anderson Ramos, o aluno Ramos, seu “canga” na escola de formação de sargentos num passado muito distante. “Vai ter pena desta pobre casca e vai morrer, Sônico.” “Engano seu, demônio. Eu sei que meu amigo já está morto, e por isto para você eu terei apenas as pontas afiadas do Tridente de Kameranus.” Dito isto o choque entre metais se dá inicio. Durante todo o clangor de todas as batalhas em sua vida, principalmente depois que passou a empunhar o Tridente de Kameranus, Anderson Ramos nunca se preocupou com o que se passaria com seu inimigo após a morte. Normalmente o destino de todas estas almas é o próprio Tridente, fortalecendo-o para que ele sempre fique mais poderoso do que seus inimigos no caminho do mal, mas esta é sua primeira batalha contra alguém que não é maligno, mas sim está possuído por algo maligno. E ele está prestes a descobrir o que resultará de suas ações. Quanto a Armageh e o Mjala a luta se transforma em algo de padrão épico mesmo para tudo que ele já se acostumara ao longo de sua vida. O poder desencadeado pelo Mjala tem a magnitude cósmica que ele já imaginava e agradece a demora em sua caçada a fim de se fortalecer para tal. A cada magia invocada pelo Mjala ou cada golpe de sua alabarda Armageh se mantém firme respondendo prontamente com seus poderes e suas Espadas do Tempo. E a cada golpe desferido pelo Mjala e rechaçado por Armageh a força do segundo cresce enquanto a do primeiro é drenada. “O que você está fazendo, maldito? Como pode aumentar em poder enquanto eu enfraqueço mais e mais? Corrompeu seu propósito?” “Você tem muito que aprender, Mjala, mas não terá este tempo. Não me corrompi, apenas aprendi. Com os antigos escritos de Kurala.” O Mjala pisca ao se dar conta. A única fonte de poder que ele não encontrou, que ele sequer procurou, achando que fosse mesmo uma lenda. O maior poder de todos. “Você aprendeu as cinco artes...” Ante a projeção de entendimento que o assoma agora, o Mjala se lança para um ataque derradeiro, não para vencer Armageh, mas na busca de uma morte honrada. Afinal de contas o irmão de Alkan, o homem que um dia foi Arkarin, ainda reside no fundo da alma do Mjala e a honra de sua família ainda lhe é preciosa. Armageh observa isso no ultimo olhar do Mjala para ele antes de enterrar as duas espadas em seu peito. Ato continuo Armageh se volta para os outros três combates para se certificar que Alkan ainda possui muito do poder que lhe foi passado pelo Avatar de Tirosan e com pesar observá-lo retirando sua espada da garganta do pobre rapaz outrora conhecido como Valarys Reis. Observa também o Cavaleiro da Lua, Darkman, parado em uma prece silenciosa sobre o cadáver de seu companheiro Valkarish Raken, por quem ele tinha a estima como sucessor dos grandes comandantes Valarys. E a pior cena, para ele e para o Implacável. Encurralado, com o Tridente de Kameranus apontado para sua cabeça e a mercê do golpe fatal, o Valarys Militão, seu sobrinho, amigo fiel de Anderson Ramos nos tempos de Exército, sangrando e sem a máscara a encarar o rosto frio e impassível do amigo. “O que está esperando, sucessor de Kameranus? Está com pena da casca? Não foi você quem disse que seu amigo estava morto?” “Ramos, não cometa o mesmo erro que eu.” – diz Armageh se aproximando. “Titio. Vai me proteger de novo? Eu sei que vai. Não o deixe me matar. Sou sangue do seu sangue.” “Acabe com isso, Ramos. Não repita o meu erro.” “Não Coronel. Eu não vou cometer o seu erro, mas também não me tornarei assassino de inocente. – seus olhos brilham de repente e até Darkman se afasta dele. Eu sou o sucessor de Kameranus. Pela minha honra e pelo poder que me foi conferido, eu abdico da linha de sucessão em prol do sangue inocente aqui derramado hoje neste campo de batalha. Kameranus, aceite-me em troca da remissão de todos aqui.” Ramos faz um movimento e crava o Tridente de Kameranus no chão em cima do sangue de seu velho amigo. O ribombar de um trovão se faz ouvir e um raio atinge em cheio o guerreiro Sônico. Os demais são lançados para longe pelo deslocamento de ar. Um silêncio sepulcral toma conta do lugar. Armageh, Darkman e Alkan se levantam e deparam-se com uma cena onírica: entre névoa e sob uma tênue luz arroxeada vinda do céu, um guerreiro de pele dourada paira no ar a frente de Sônico cujo corpo se projeta em uma forma etérea. “Aconteceu.” – diz Alkan. “Está acontecendo, na verdade, Alkan.” - corrige Darkman “Silêncio mortais e aproximem-se.” – entoa em uma voz trovejosa o guerreiro de pele dourada. Os três guerreiros se aproximam e se colocam em posição reverente. “Sabe quem sou?” – pergunta ele a Sônico “Sim. – diz Sônico. Tu és Kameranus. O lendário guerreiro Kamus. Aquele que escolhe o melhor entre os melhores em espírito para sucedê-lo em defesa dos que não podem defender-se.” “Sim, meu nobre sucessor. Meus arautos te escolheram, pois tu és nobre e um guerreiro feroz. Tu tens a capacidade de me suceder por eras. E hoje tu vens diante de mim e abdica deste encargo de honra pela salvação do sangue inocente derramado. Sangue que tu também derramaste. Isto é visto como verdade?” “Sim Kameranus.” “Tu estais disposto a entregar-te no lugar dos bravos guerreiros caídos a fim de dar-lhes a salvação e se Iariz o decidir a oportunidade de uma nova vida?” “Ramos você está louco?” “Não se meta, Guerreiro da Balança, não é assunto seu.” “Sim, Kameranus.” – responde Armageh. “Então, meu nobre sucessor. É este seu desejo? Tu que estais por um fio em cada um dos mundos. É este seu desejo? Que Iariz o receba em troca dos três bravos guerreiros caídos?” “Sim, Kameranus.” “Então seja aceito seu desejo e seja feita a vontade de Iariz.” Uma luz dourada se projeta de Kameranus em cima dos três guerreiros. Por um momento nada se vê até que a luz diminua até desvanecer e os três estejam de pé olhando atônitos para Kameranus e Sônico. Armageh, Darkman e Alkan permanecem calados. “Agora, meu nobre sucessor, despeça-te de teus amigos antes de prosseguir comigo pela longa caminhada de Kamus.” “Sim, meu senhor Kameranus.” Sônico, ainda em uma forma etérea se aproxima dos seis guerreiros. “Ato nobre, Ramos. Devo dizer que me sinto muito honrado em ter lutado ao teu lado.” “A honra foi minha, Chris. Cavaleiro da Lua.” “Vá em paz, Sônico.” “Mantenha-se neste caminho Alkan. Raken, Reis, aproveitem a nova chance e procurem ser sempre corretos.” “Sim, Sônico, e obrigado.” – responde Raken. “Obrigado Sônico. Por ter sido meu mentor e por agora me salvar.” – diz Reis com voz embargada. Sônico se dirige a Armageh e Militão. “Fique bem Militão, meu velho canga de escola. Cuida bem do teu tio.” O rapaz nada responde e abraça seu velho amigo. “Se apruma cara. Não vai ter-me mais por perto para safar tua onça.” – diz Ramos dirigindo-se agora ao coronel. É velho Coronel, vai finalmente ficar livre de mim de uma vez.” “Só se Iariz não me ouvir, meu amigo.” De fato. Uma luz vinda do céu cobre o corpo do guerreiro Sônico e uma voz vigorosa, porém tão leve quanto uma brisa toma conta. “Seu sacrifício não foi em vão, Guerreiro Sônico, sucessor de Kameranus. Os três inocentes mortos retornaram a vida pela dádiva de Kameranus e por minha vontade, Iariz. Mas um Guerreiro como você ainda tem muito a fazer pelo bem da galáxia e as preces de Armageh, o Guerreiro da Balança também serão atendidas. Por seu ato e pelas preces eu te concedo uma nova vida. Sua redenção.” O corpo de Sônico começa a deixar de ser translúcido tomando novamente sua forma material. “Sucessor de Kameranus, mantenha-se em seu caminho. Este é o desejo final de Iariz.” A luz desvanece deixando o guerreiro Sônico, com o Tridente de Kameranus na mão, iluminado apenas pela luz fraca da lua verde de Girkan com a certeza de que seu caminho na trilha do bem ainda permanecerá por muito tempo. Léo Rodrigues
Enviado por Léo Rodrigues em 25/03/2017
Alterado em 25/03/2017 Copyright © 2017. Todos os direitos reservados. Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor. |