Marco Zero - A batalha pós-apocalíptica.
Várias profecias davam conta do fim do mundo. A maioria delas estava parcialmente errada. Algumas previam o fim do mundo na virada de 1999 para 2000. Outras previram que o mundo acabaria no ano de 2012. Uma terceira, surgida em meados dos anos 2020, 2030 previam que tudo acabaria numa grande guerra, a terceira no ano de 2038. Todas estavam parcialmente erradas. Parcialmente. O mundo não acabou. As datas não foram estas. Mas o conflito que devastou a Terra realmente aconteceu. Ou melhor os conflitos. Em 2045 tudo começou, ou terminou. As grandes nações que compunham o chamado Primeiro Mundo iniciaram o Apocalipse. As guerras, primeiro as duas biológicas e a terceira nuclear arrasaram o globo. Nações que sequer escolheram um lado foram bastante afetadas. Os EUA, a China e a Rússia, bem como a maioria das nações que um dia formaram a União Soviética simplesmente acabaram. Quando finalmente os efeitos nucleares começaram a diminuir em 2056, os governos que ainda mantinham uma organização passaram a se comunicar descobrindo como as guerras tinham afetado o globo e fizeram um pacto de reconstrução. Um destes governos, o brasileiro, iniciou o processo de reestruturação comandado por um homem chamado Rafael Ignácio, um antigo político de caráter duvidoso, mas que começou um excelente trabalho na recuperação do país junto a outros sobreviventes. O problema é que as dúvidas sobre seu caráter acabaram por se mostrar relevantes quando ele tomou o controle do país instituindo uma Lei Marcial tendo setenta por cento do exército a seu lado. Os trinta por cento contra ele que se rebelaram foram quase totalmente mortos. Aqueles que conseguiram sobreviver fugiram e criaram um grupo de resistência ao novo sistema. Nos anos seguintes apesar dos frequentes ataques da resistência contra a Cidadela São Sebastião, o governo de Rafael Ignácio se mantém firme subjugando o povo de forma a trabalhar e trazer prosperidade ao país ao custo de sua liberdade mantendo uma vida de luxo e suntuosidade as duas grandes classes de poder no país, a Arma Patriota, o novo exército da nação comandado pelo general Carlos Moreira Ignácio, primo de Rafael, e o PT, o Partido Totalitário, chefiado por Tomás Caldeira, cunhado de Rafael, ambas as classes subordinadas ao Supremo Líder da Nação, o respeitável e venerável senhor Rafael Ignácio. ************************************ - Não pare de correr Aline. - Eu não aguento mais, Matheus, simplesmente não aguento. - Você precisa. Se a Arma Patriota nos pegar será nosso fim. Vamos. - Incitando a irmã a correr, Matheus retoma o Caminho dos Exilados tentando evitar os tiros desferidos pela patrulha em seu encalço. A antiga avenida brasil que ligava o centro a zona oeste do Rio de Janeiro virou a rota de morte para aqueles que são lançados ali. Batizada de Caminho dos Exilados, ela começa no portão 4 da Cidadela São Sebastião no antigo bairro de Guadalupe e continua até o bairro de Santa Cruz. Pela Lei Marcial do Supremo Líder, aquele que agir contra a Resolução Una, se portar de maneira marginal às ideias do PT, submeter-se-á ao Caminho dos Exilados. Na verdade uma corrida para a morte contra o tempo, pois a Arma Patriota após dar alguns minutos de “vantagem” ao exilado segue atrás a fim de caçá-lo e matá-lo, mas segundo o Supremo uma chance para o reles marginal tentar sobreviver. A jovem cai no chão e Matheus a levanta de novo. - Vamos Aline, vamos. Retomando a corrida eles saltam por cima de uma barricada e por pouco não caem num fosso de estacas punji. Matheus segura Aline e a puxa a fim de contornar o fosso e continuar a corrida. Além da distância a percorrer e da patrulha a segui-los eles precisam ficar atentos as armadilhas ao longo do percurso. Mais à frente eles encontram uma manilha. Pensando em se esconder dos perseguidores Matheus puxa a irmã para dentro e sinaliza para que ela faça silêncio. Por meia hora mais ou menos eles permanecem quietos atentos ao som ao seu redor a fim de saber se despistaram a patrulha. Tendo a esperança de sobrevivência renovada eles se arrastam pela manilha e após algumas curvas eles veem um terreno descampado de mais ou menos dois quilômetros que desemboca numa antiga área residencial. - Vamos irmã. Talvez tenhamos alguma chance se chegarmos aqueles prédios. - Será Matheus? - Temos que tentar. É uma área aberta até lá, por isso tente correr o máximo que conseguir com todas as suas forças. - Vou tentar. Ao sair da manilha e reiniciar a corrida uma explosão a frente bloqueia seu caminho. Eles são cercados rapidamente pela patrulha da Arma Patriota. - Ora, ora, os gêmeos marginais. - Tavares, o matricida. A bofetada atinge o rosto de Matheus jogando-o de volta ao chão. - Veja como fala comigo, seu fedelho. Eu sou Tenente da Arma Patriota. Você me deve respeito. Como resposta Matheus cospe no coturno de Tavares. O Tenente então desfere um chute no peito do rapaz, puxa seu fuzil da bandoleira e avança a fim de dar-lhe uma coronhada quando o espaço entre ele e o rapaz é atingido por uma rajada de balas. Os nove homens da patrulha se jogam no chão. - Aí Tavares se eu fosse você não faria isso. - Esta voz… - diz Tavares se levantando com as mãos para cima e olhando para o homem vestido com a antiga farda camuflada do Exército Brasileiro cujo rosto está coberto por um lenço. Eu conheço você. - Ah, conhece sim. Mas naquela época eu era sargento e você apenas um recruta vagabundo . Não servia para nada. E agora é Tenente da Arma Patriota. Como as coisas mudam. - diz o homem descendo o lenço do rosto. - Sargento Vicente? - Comandante, o senhor acha prudente ele saber sua identidade? - pergunta um dos homens de farda do exército ao lado do sargento. - Comandante? Então você é aquele que chamam de Ark Vincent? - É isso aí, Tavares. - Devo crer que você vai me matar assim, a sangue frio? Eu sempre te achei um covarde mesmo. - Só rindo de você Tavares. O que mais você fez desde que a Arma Patriota foi criada foi matar a sangue frio. O que você quer? Uma chance de tirar a limpo nosso passado? Eu te darei este chance. - Comandante. - Calma Daniel. Isso vai ser moleza. - Esperei por isso a minha vida inteira. - diz Tavares tirando sua camisa. - Não tira a camisa não, quem vai apanhar é você e não ela. Ark Vincent sequer dá chance a Tavares de atacar. No estilo Muay Thai ele entra com uma forte joelhada voadora no queixo do Tenente que cai no chão cuspindo sangue. - Levanta. Eu espero. - diz Ark sinalizando para que Tavares volte a luta. Tavares se levanta e arremete contra Ark que deixa que ele o agarre pela cintura numa débil tentativa de jogá-lo ao chão somente para desferir duas cotoveladas na nuca do adversário. Na sequência o Comandante da resistência o segura pelo cabelos. - Eu sempre te disse pra cortar o cabelo. - e desfere mais uma joelhada na cabeça do Oficial da Arma Patriota. Ele cai no chão atordoado e sangrando. - Suponho… que vá… me matar agora. - Te matar? Claro que não. Seus amigos aqui da patrulha vão morrer sim, mas você vai levar um recado a seu Supremo Líder. ******************************* - Supremo Líder temos um problema. - diz o General Caldeira entrando no gabinete de Rafael Ignácio. - O que é Caldeira? Porque esta cara de cachorro assustado? - A patrulha designada para caçar os gêmeos no Caminho dos Exilados foi morta à exceção do tenente. - Como é que é? E onde ele está? Vamos interrogá-lo e descobrir o que houve. - Não é tão simples senhor. - Porque? - É melhor que venha comigo. Chegando ao portão 4 da Cidadela, Rafael Ignácio pode observar o que seu cunhado queria lhe dizer. O Tenente Tavares está amordaçado e amarrado ao para-choque de um velho caminhão do exército parado a uns duzentos metros do portão. - Como ele chegou ali? - Os sentinelas não sabem. Não ouviram barulho nenhum durante a noite. Quando o dia raiou o caminhão estava ali e o Tavares preso a ele. - Mande alguém retirá-lo de lá, Caldeira. O general sinaliza para dois soldados que seguem até o caminhão com mais dois fazendo sua escolta. Enquanto os quatro caminham com cautela, o rádio do sargento ao lado do general dá sinal. - General Caldeira, meu bom e velho safado. - O que é isso? - Não sei senhor. - Quem é o abusado que está dizendo isto? - diz o general tomando o rádio da mão do sargento. Quem é você? - Eu sou o responsável pelo que você está vendo General. Eu sou Ark Vincent. - Seu rato. Porque não aparece e me enfrenta. - Ah, mas eu vou fazer isso General. Só não será agora. Por hora eu tenho apenas um recado. - E qual é? - Quando seus soldadinhos chegarem ao corpo do tenente faça contato com eles, o recado está com ele. Por baixo de sua camisa. Vendo que os quatro combatentes chegaram ao corpo do tenente o general faz contato via rádio. - Soldado levante a camisa do tenente e veja o que há por baixo. O soldado levanta a camisa e lê a inscrição no peito do tenente. - Soldado o que diz aí? - General, está escrito bum. Neste instante o caminhão do exército explode. A força do deslocamento de ar é tamanha que mesmo a distância que se encontram o General e o Supremo Líder são jogados para trás. No meio de toda a cacofonia louca pela confusão que se instaurou o general ouve as últimas palavras de Ark Vincent pelo rádio. - Rafael Ignácio e General Caldeira seu tempo acabou. Este é o Marco Zero. Nossa batalha acaba de começar. Léo Rodrigues
Enviado por Léo Rodrigues em 25/11/2015
Alterado em 25/11/2015 Copyright © 2015. Todos os direitos reservados. Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor. |