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Final da Copa Libertadores - Flamengo e Vasco - 2º Jogo
     O Vasco entra primeiro no gramado e parte para a foto oficial. O Flamengo ainda se encontra à beira da escada que dá acesso ao gramado fazendo sua corrente. Pataca, o herói, puxa os jogadores pelo brio. Conclama o time a entrar em campo e jogar até a exaustão. Até a morte se necessário for. Ele irá jogar no sacrifício de novo.
          - Aqui ninguém é melhor que ninguém. Mas nós seremos superiores lá em cima. A raça é nossa marca registrada. A batalha do Olímpico foi a pior e nós vencemos. Quarta passada fomos bem, mas, hoje seremos melhores. Vagner, meu goleiro, hoje tu pega até pensamento. Pênalti então nem se fala. Vamos lá. Até a exaustão. Até a morte se for necessário. Vamos lá. Vamos lá. Vamos lá.
     Com gritos eufóricos o time termina a corrente e sobe as escadas. Na pose para a foto oficial o fotógrafo se assusta ao batê-la. Os olhos de todos os jogadores do Flamengo parecem faiscar, como se relâmpagos irrompessem de suas órbitas. Ele se assusta. Isto é inacreditável. Em quinze anos cobrindo futebol, é a primeira vez que ele vê isto. Concomitante a esta visão um trovejar ressoa no Maracanã. A torcida do Flamengo começou seu incentivo ao time.
     A partida vai começar com saída para o Vasco. Na torcida do Fla, o pequeno Lucca está presente ajudando a inflamar o time com sua voz. Ele sabe que mesmo sendo tão pequeno tem sua importância. Importância vital simplesmente por ser parte desta imensa torcida. Por quê? Porque ele é Rubro-Negro. Em suas veias corre um sangue especial, bombeado por um coração Flamenguista. Desta vez sua mãe não foi ao estádio. Quem o levou foi seu pai, Léo. Um Flamenguista doente que nunca viu seu time ser derrotado em final no Maracanã. Todas as vezes que esteve presente aos jogos finais, o Mengão venceu. Esta é sua mística. Sua escrita. A mesma que ele pretende passar para seu jovem herdeiro.
     O Vasco dá a saída. Começa a decisão. Serão os últimos noventa minutos da maior final já protagonizada pelos dois times cariocas. O Vasco toma a iniciativa do jogo e parte para cima do Fla. Em sua jogada característica, Araújo é lançado na direita. O problema é a tática usada. O Vasco se preparou para jogar de uma forma diferente e o lançamento para o artilheiro cruzmaltino é justamente para confundir e tentar abrir a defesa do Flamengo. Tonhão marca Araújo e Tavarez marca Domingues. Araújo nem mata a bola, de primeira ele empurra no meio para Domingues, que marcado pelo zagueirão Tavarez, chamado de Beque da Roça pela torcida apenas abre as pernas e a deixa passar num corta luz fantástico para Denis que vem velozmente pela esquerda. Ele dá um pequeno toque na bola para colocá-la na frente e preparar o chute. Denis entra na área e prepara-se para chutar. Vagner sai do gol para fechar-lhe o ângulo e Zé Carlos, que vinha acompanhando o meia, chega atrasado. Denis cai na área e o juiz apita. Pênalti. Com meio minuto de jogo, o Vasco tem um pênalti a seu favor. Ainda para piorar o juiz nem puxa o cartão amarelo. Ele dá o vermelho direto para o lateral direito Rubro-Negro. Começa mal o Mais Querido do Brasil.
     O atacante Araújo pega a bola e põe embaixo do braço dizendo que vai cobrar. Domingues se aproxima e lhe lembra do tabu de nunca ter feito gol em Vagner. Sua resposta ao companheiro é dizer que tabus foram feitos para serem quebrados. No gol, o Barreira Humana se concentra e Pataca vai até ele.
          - Vagner, lembre-se do que falei no vestiário. Hoje tu pega até pensamento. Que dirá pênalti. Tu vai pegar e eu vou estar lá na direita para receber seu lançamento e abrir o placar de nossa goleada. Conto com você.
     Vagner assente ao amigo e nada responde. Seus olhos brilham. O pequeno Lucca no meio da torcida começa um grito sozinho que vai se agigantando ao ser acompanhado pelo restante dos torcedores. Eles gritam o nome do goleiro. Gritam para Vagner saber que toda a torcida confia nele. Gritam para lhe mostrar que a nação está a seu lado. Ele se arrepia e sente que vai pegar o pênalti. Está escrito, pensa ele. Eu vou pegar. Ele fala consigo mesmo, vou pegar. Araújo ajeita a bola na marca do pênalti e Vagner grita para ele: Eu vou pegar, ouviu? Eu vou pegar. Araújo sente o corpo estremecer. Ele sabe o que é isso. Chama-se Medo. Araújo começa a suar. Não é possível. Ele que bateu todos os pênaltis de sua equipe ao longo do ano e não perdeu nenhum. Não, não será agora que vou perder. Tabu é para ser quebrado, mas porque minha perna direita treme? Porque sinto o ar me faltar? Não, é apenas impressão. É a emoção de saber que vou abrir o caminho de nosso título em cima de nosso maior rival. Eu vou fazer este gol. Ele grita de volta para Vagner. Eu vou fazer. Eu vou fazer. Mais para se convencer do que para intimidar o goleiro. Mas Vagner não o ouve. Ele escuta apenas a torcida gritando seu nome e uma voz, de repente, assopra em seu ouvido. Canto direito, canto direito.
     O juiz olha para o bandeirinha que sinaliza dizendo que está tudo ok. Ele vai apitar. Vai autorizar a cobrança da penalidade máxima. Na arquibancada, um torcedor ao lado de Léo e do pequeno Lucca liga o radinho. Ele não quer ver a cobrança. Ele está muito nervoso. Do rádio o locutor emociona a todos. Ele se prepara para narrar o lance:
          - O juiz se prepara para autorizar. Araújo, o artilheiro vascaíno se posiciona. Vagner, o Barreira Humana também. Pode ser o primeiro gol do jogo. O Maraca fervilha. As torcidas se agitam. Vagner contra Araújo. Araújo contra Vagner. Preparados. O juiz apita. Araújo corre para a bola. Apontou, atirou, deeeeeeeeeeeefeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeendeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeuuuuuuuu, defendeu Vagner. O Barreira Humana defende e já liga o contra ataque do Flamengo lançando a bola na direita para Pataca. Ele domina e inverte na esquerda para Marquinhos. O Flamengo avança, Pataca corre pelo meio, Marquinhos vai à linha de fundo, subiu cruzamento na boca do gol, subiu Pataca de cabeça, apontou, atirou, entrou. Goooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooolllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllll. ÉÉ ÉÉ ÉÉ ÉÉ ÉÉ ÉÉ ÉÉ ÉÉ ÉÉ ÉÉ ÉÉ ÉÉ ÉÉ ÉÉ ÉÉ ÉÉ ÉÉ ÉÉ ÉÉ ÉÉ ÉÉ ÉÉ ÉÉ ÉÉ ÉÉ ÉÉ do Flamengaaaaaaaaaaaaaaaaaaço. Pataca. O herói Rubro-Negro. O craque da camisa número dez. Abre o placar no Maracanã. Um golaço do flamengo incendiando ainda mais sua torcida...
     Na arquibancada a festa é indescritível. Léo joga o filho para o alto. O torcedor do radinho chora agarrado ao seu amigo de todos os jogos, seu bom e velho radinho de pilha. Em casa a mãe do jovem Lucca não contém a emoção.  A torcida vibra muito. Agora no Maracanã Flamengo um, Vasco da Gama zero.
     Após o gol Pataca correu por todo o campo junto com seus companheiros para abraçar ninguém menos que Vagner.
          - Eu disse que você pegava Vagner.
          - Eu ouvi Pataca. Ouvi uma voz soprar no meu ouvido para eu pular no canto direito e deu certo. Deu certo, eu defendi.
     Os dois amigos se abraçam chorando pela felicidade da jogada. Mas não tem nada decidido ainda. Tem muito jogo pela frente.
     O Vasco dá nova saída, mas não mais com o mesmo entusiasmo. O time se abateu com o gol. O técnico grita tentando incentivar seus jogadores, mas de nada adianta. Vendo isto o treinador do Flamengo, Antonio começa a gritar a beira do gramado para o rubro-negro partir para cima e espremer o Vasco em seu campo de defesa. Inflamado pelo incentivo da torcida, o time responde em campo. Abel rouba a bola no círculo central, toca para Eduardo, que abre o jogo na direita para a subida do zagueiro Tonhão, curtindo uma de lateral direito. Ele joga a bola entre as pernas de Juca e enfia a bola no meio da zaga vascaína. Assim como Domingues havia feito no lance do pênalti, Pataca abre as pernas, deixando a bola passar para o lateral Marquinhos que entra pela esquerda e no melhor estilo Carlos Alberto, o capitão do Tri, canhoto, enche o pé. A bola pega na veia. Marquinhos estufa a rede no Maracanã levando a torcida do Flamengo à loucura. Mengão dois a zero.
     A torcida do Flamengo faz tanta festa nas arquibancadas que nem percebe que o primeiro tempo terminou. Léo e seu filho Lucca comandam a torcida. São eles que agora puxam os brados lá no meio da galera. E entre um grito e outro começa o segundo tempo, com a saída pertencendo ao time, que até o momento vence a partida. Como diria o locutor do rádio: O Flamengaço rola a bola para mais quarenta e cinco minutos de pura emoção.
     O Vasco volta mais vivo para o segundo tempo, mas esbarra num Flamengo muito bem montado e armado dentro de campo. Um Flamengo que dá pinta de querer aplicar uma bela goleada como previra Pataca. E a previsão do herói começa a se desenhar dentro de campo. Escanteio para o Flamengo. A bola pinga no primeiro pau, o goleiro Tiago tira de soco de dentro da área e Tonhão, o Colosso, pega, de primeira, uma pancada fenomenal, indefensável. Mengão três, Vasco zero. E a torcida já começa a cantar: Ô, o ô, o o o o ô, vice de novo.
     O locutor já não tem mais em seu repertório de adjetivos, qualquer um que possa descrever o time do Flamengo na noite de hoje: Maravilhoso, fenomenal, fantástico, incrível, fascinante. E em meio a tantos elogios o Rubro-negro chega ao quarto gol aos quarenta e três minutos. O jovem Guilherme, que acabara de entrar, tabela com Pataca, entra na área e fulmina a queima roupa o goleiro do Vasco. O pobre goleiro se estica todo mas não adianta. A goleada está inscrita na história. Este é o dia que será lembrado como o dia em que o Vasco caiu de quatro no Maracanã pela competição sul-americana mais importante. E o pior, caiu de quatro para seu arqui-rival e algoz: O Mengão.
     Não há mais um vascaíno no Maracanã. Nenhum torcedor quis assistir até o final o baile que o Flamengo deu no Vasco. Nenhum deles ficou para ver o juiz pedir a bola, apontar o centro de campo e decretar o Flamengo como o Campeão da Libertadores deste ano. Decretar o Flamengo como sendo o representante Sul-americano e Brasileiro no mundial interclubes. Decretar que o Flamengo é, e sempre será amado cada dia mais por sua fanática torcida. A Nação Rubro-Negra.
     Na arquibancada nenhum torcedor vascaíno viu o que Léo e seu filho Lucca viram: Pataca erguer mais um troféu de campeão para o Flamengo e sua torcida, após um chocolate de quatro a zero em cima do Vasco. Com direito a ver o goleiraço do Flamengo pegar um pênalti que pode ter sido decisivo para a vitória; ver um zagueiro que dificilmente passa do meio de campo marcar um belíssimo gol; ver o time do Vasco entregue, sem forças para reagir ante a superioridade do Flamengo nesta partida; Ver com justiça, o melhor time em campo ser o campeão. O Clube de Regatas do Flamengo.
Léo Rodrigues
Enviado por Léo Rodrigues em 16/04/2007
Alterado em 02/07/2007


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