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Textos

Jogo de amor!!!

                         Ao longo de uma vida, as pessoas costumam se preocupar com tantas coisas, de importantes a fúteis, que esquecem coisas como crescei-vos e multiplicai-vos. A alusão a esta máxima bíblica é justamente por conta de uma coisa, uma coisinha simples, mas de tanta importância na vida das pessoas que o mundo de hoje em dia, capitalista e corrido como é, anda esquecendo hora a hora, minuto a minuto: o amor.
                         Por conta disso, este capitalismo desenfreado, a jovem Paola, linda e romântica, abandonou sua crença no encontro de seu, termo em desuso hoje, príncipe encantado. Bem, na verdade a questão não se baseia na fantasia, mas sim na realidade, pois esta personificação de príncipe encantado, para ela, seria encontrar um homem que a amasse e dividisse com ela momentos de alegria e tristeza. O que ela não sabe é que muita coisa pode mudar em um segundo e que este amor não está mais tão longe quanto ela imagina.
                         Voltando à corrida capitalista ou cupido enviesado, para Paola. Por conta da máxima de grandes lucros pequenos custos a empresa em que a jovem trabalha resolveu fazer cortes orçamentários, e eles ocorreram justamente em seu setor e para deixar nossa trama mais interessante, a bela morena de vinte e seis anos, lábios carnudos e cabelos negros na altura da cintura foi demitida. Um baque inesperado. Nada que a deixe desesperada, pois cautela e canja de galinha não fazem mal a ninguém e ela, como uma jovem inteligente, fez um pé de meia para eventos desta natureza. Mas ficar sem emprego não é algo encorajador.
                         É nas horas difíceis que se vê quem são os amigos. Juliana, sua grande amiga de faculdade, sabendo do ocorrido, resolveu levantar o astral da amiga e a convidou para viajar a sua casa de praia em Cabo Frio para passar o feriado. Realmente um lugar capaz de fazer as pessoas esquecerem os problemas. Muita praia durante o dia, com um sol tão bom, que a jovem ficou ainda mais morena e ainda mais linda bronzeada, e a noite os preparativos para um lual.
                                   - Animada para o lual, Paola?
                                   - Não muito.
                                   - Ué, por quê?
                                   - Bem, durante o dia eu estava preocupada com sol, sal, areia na minha pele. E agora, sem nada disso, voltei a pensar que quando o feriadão acabar, eu vou voltar ao mundo real e nele eu estou desempregada.
                                   - Então deixa para pensar nisso segunda feira quando você retornar ao mundo real. Vamos nos divertir no lual. O meu primo vai vir com alguns colegas, quem sabe você não curte com algum deles?
                                   - Estou fora, não quero saber de namorar, ficou doida? Eu estou desempregada, não posso pensar em namorar, paquerar e...
                         A bela morena se interrompe ao ver um grupo de rapazes chegando a casa da amiga, cinco jovens na verdade, e pelo sorriso que um deles abriu para Juliana, com certeza se trata de seu primo.
                                   - Oi Ju, minha querida.
                                   - Xande, que saudade. – eles se abraçam. Esta é minha amiga, Paola.
                                   - Prazer, Alexandre. – ele sorri e a encara.
                                   - O prazer é meu. – ela engasga.
                                   - Estes são Jonas, Cláudio, Luís e Tadeu. Assistentes júnior lá da empresa.
                                   - Assistentes júnior?
                                   - É. Estamos expandindo, então eu achei que seria interessante abrir caminho para jovens recém formados na faculdade e criei estes cargos. Se eles forem bem passam a assistentes e são efetivados. Eu resolvi trazê-los para que eles vejam que nem tudo se resume em trabalho. O lazer é algo imprescindível.
                                   - Que legal. Hum, será que você teria vaga para um programador? – Paola dá uma cutucada no braço da amiga. Ai!
                                   - O que houve? – ri Alexandre, que se apercebera do cutucão.
                                   - Nervo ciático.
                                   - No braço Ju? Tá bom. Me manda o currículo da pessoa e eu vejo o que consigo. Podemos partir para a praia?
                                   - Claro que sim.
                         Antes de sair, Paola puxa Juliana pelo braço.
                                   - Ficou maluca? Este não é aquele teu primo mulherengo de quase quarenta anos?
                                   - O que tem isso?
                                   - Você acha que ele vai aprovar meu currículo sem que eu faça o teste do sofá?
                                   - Ah não viaja, Paola. Ele mudou, tá bem? Primeiro ele não tem quarenta anos, tem trinta e seis, segundo ele é profissional no que faz e terceiro é só você não dar abertura para ele que nada acontece, ok?
                                   - Mas...
                                   - Ah, chega, vamos para a praia.
                         Na praia o lual se desenrola bastante animado. Os quatros rapazes que trabalham com Alexandre são divertidos ajudando a levantar o astral do ambiente. Mas, e tudo sempre tem um mas, eles quatro, até pela idade, todos em torno de vinte e quatro e vinte e sete anos, se revezam no entorno de Paola. Com Juliana nenhum deles quis sequer chegar perto depois que Alexandre disse que o noivo da prima era militar e só não estava ali por estar numa missão. Antes que qualquer um dos rapazes objetasse algo, ele tratou de complementar a informação com termos como “Forças Especiais” e “bate até o cara virar maria mole”. Ninguém mais quis chegar perto de Juliana. O que tornou Paola o único “alvo” dos rapazes, visto as outras colegas de Juliana terem ido acompanhadas para o lual.
                                   - Será que isso não vai parar Ju?
                                   - O que?
                                   - Estes caras não param de me paquerar. Será que não dá para dar um tempo?
                                   - Quer que eu fale com o Alexandre?
                                   - Falar o que comigo?
                                   - Nada não. – diz a morena com cara de poucos amigos e ele sorri. Está debochando de mim? – ela pergunta.
                                   - De maneira nenhuma. Só achei graça que você tenha ficado tão tensa. Olhe, estes quatro são bons rapazes, mas sabe como é, idade, testosterona, sua beleza. É uma combinação perfeita, não acha? – ela ruboriza.
                                   - Não, não acho. Eu não quero ser paquerada nem perturbada.
                                   - Hum, posso usar uma solução eficaz?
                                   - Qual?
                                   - A Juliana se afasta um pouco de nós e ficamos conversando. Eles vão achar que eu estou te dando ideia e desistem, pelo menos por um tempo, de tentar algo com você.
                                   - E você não vai tentar nada?
                                   - Eu nunca joguei 26 X 36.
                                   - Como é?
                                   - Minha idade contra a sua. - ele ri. Eu nunca fiz este jogo, fique tranquila. Aceita a ideia?
                                   - Se for para me livrar deles, aceito.
                         Dito e feito. Conforme Juliana se afasta e Alexandre para ao lado de Paola para conversar, nenhum dos quatro rapazes tornou a se aproximar dela. Para sorte deles, mais algumas amigas de Juliana chegam ao lual, desacompanhadas, e a própria faz questão de apresentá-los a fim de não só acabar de vez com a possibilidade de a amiga voltar a ser seu alvo bem como eles curtirem a noite com as meninas.
                         Para Paola o alívio gerado foi ótimo, além dela ter uma grata surpresa. A conversa com Alexandre foi se tornando cada vez mais interessante e ela pode perceber o quão o rapaz é um cara bacana. Apesar da diferença de idade, ela sente, tanto quanto ele, que surge uma fina sintonia, algo bastante gostoso de curtir.
                         O feriado parece voar sob a perspectiva da jovem. Sua intenção em não dar brecha a ninguém, principalmente a Alexandre, até se manteve, mas ela não pode deixar de perceber o quanto o rapaz a encanta e o quanto seus olhos brilham ao olhar para ela. Talvez seja coisa da sua imaginação, mas o certo é que ele se tornou uma adorável companhia. E, o mais importante para ela no momento, ele se predispôs a analisar seu currículo para trabalho. Sua maior preocupação. Para isto ele passou para ela não só seu e-mail funcional como também o particular, MSN e facebook. Talvez coisas demais, mas como ele mesmo disse, apenas uma maneira de não perder o contato e poder ajudá-la.
                         De volta ao Rio de Janeiro, os dias passam lentamente para Paola, quase como uma espera centenária. Para Alexandre, seu melhor horário no trabalho é quando vê Paola on no MSN ou no facebook. O horário em que eles retomam as conversas de Cabo Frio. O grande detalhe é que, por mais que ela comece a se envolver, sua preocupação é com seu futuro, um emprego é o que ela precisa não um romance.
                         Ao cabo de três semanas ela resolve por fim a esta história de internet com Alexandre bloqueando o rapaz em tudo e sem responder-lhe aos envios de mensagem. O mundo é capitalista não romântico. É o que ela repete mentalmente toda vez que vê uma nova mensagem do rapaz. Ela só não poderia esquecer que Alexandre é primo de sua amiga, ela tem seu telefone e sem que soubesse ela o deu a ele.
Para sua surpresa, seu celular toca e o número que aparece é desconhecido.

                                   - Alô?
                                   - Sua voz é bonita no telefone também, sabia? Escute, antes que desligue, eu consegui o emprego para você.
                                   - Quem está falando? – ela se faz de desentendida.
                                   - É o Alexandre. Eu sei que você me bloqueou em tudo, mas eu consegui o emprego para você.
                                   - Na sua firma?
                                   - Não. O meu tio tem uma agência de emprego on line e ele próprio está precisando de um programador. Você só precisa ir até a agência que o emprego é seu. Eu disse que conseguiria, não?
                                   - É disse sim, e eu agradeço, mas tenho uma dúvida.
                                   - Qual seria?
                                   - Depois de tudo que conversamos em Cabo Frio eu achei que você fosse me arrumar uma vaga em sua empresa, o que não ocorreu. Mesmo eu te bloqueando em tudo você ainda assim me arruma um emprego e me liga para dar a notícia, por quê?
                                   - Como eu disse antes, eu nunca joguei 26 X 36. Eu cumpri minha promessa, mas não te arrumei um emprego em minha empresa para não parecer pressão sobre você.
                                   - Pressão? Como assim?
                                   - Eu quero jogar entende? Se você quiser, eu quero. Então caso sua resposta seja não, eu mantenho a promessa do emprego que realmente arrumei e te mantenho longe para não doer, como doeria se você viesse trabalhar comigo.
                                   - Eu não quero saber de romance, Alexandre. Você deve se lembrar do que eu disse. Amor não põe comida na mesa.
                                   - E trabalho não cuida da gente na velhice. Você é uma mulher bonita e eu não quero ser um estorvo em sua vida, ok? Eu penso em você com a melhor das intenções de um homem para uma mulher, é sério, mas você tem que deixar que isso ocorra. Sabe aquela história do faça acontecer que eu faço valer a pena? É isso mesmo. A vida é curta e nós temos que aproveitá-la, sabia? Eu não quero outra mulher, só quero você. Você já tem meu telefone. Se mudar de ideia, por favor, me ligue.
                                   - E se eu não ligar, você vai me ligar de novo?
                                   - Nunca mais. Não vou ficar no teu pé. A vida a dois é assim, os dois tem que querer. E não tem essa de um ficar enchendo o saco até o outro ceder. Não é assim que funciona. Se você me ligar eu vou saber que você está a fim de tentar o amor em sua vida. Pois é isso que vou te oferecer. E não se esqueça de procurar o meu tio, eu te mandei um e-mail com todas as informações. Fique com Deus.
                         Ele desliga e a jovem fica pensando no peso de suas palavras. Ela se acostumou, na antiga empresa, com esta visão de que para ter uma velhice estável precisa-se de dinheiro e agora um homem mais velho que ela, e claro mais experiente, lhe traz a fronte um novo conceito, aliás, novo não, antigo, pois quando ela agia pela emoção de seu lado romântico era assim que pensava. Tudo se resolve com o amor. Uma pessoa a seu lado que lhe encoraje e lhe dê o esteio de que precisa vale mais que qualquer dinheiro nesta vida. Tudo se resume a quem somos com as pessoas e não quem somos em nosso trabalho. Dinheiro não traz felicidade e amor não paga as contas. A escolha é e será sempre difícil, mas a pior parte da vida entre ter dinheiro e estar sozinho e estar com alguém e sem dinheiro é que a primeira você não tem com quem compartilhar e na segunda, seja como for, é como dizem os padres num casamento, na riqueza ou na pobreza, mas juntos até que a morte os separe.
                         Poucos dias depois, absorto no trabalho, o telefone de Alexandre toca e ele atende sem ver de quem se trata. É Paola.
                                   - Eu quero alguém ao meu lado até minha velhice. Aquela brincadeira de jogar 26 X 36 ainda está de pé?



 
Léo Rodrigues
Enviado por Léo Rodrigues em 14/11/2012
Alterado em 04/12/2013
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