Final da Copa Libertadores – Flamengo e Vasco – 1º Jogo
Porque o futebol é tão apaixonante? Talvez por que tenha times como o Flamengo para fazer a alegria de todas as torcidas. Todas, porque se ele vence sua torcida fica feliz. Se perde, bem, todas as outras vibram, pois o Flamengo é aquela pedra no sapato de todos.
Mais um campeonato, e mais uma vez o Fla está na final contra seu arqui-rival Vasco. Desta vez trata-se da final da competição mais importante das Américas. A Copa Libertadores da América. As duas equipes chegaram à final pelos méritos de sua tradição. O Vasco, conhecido como “O Time da Virada”, virou um jogo para cima do poderoso River Plate, dentro do estádio deles, quando perdia por três a um e virou para cinco a três. Enquanto o Flamengo, jogando no estádio Olímpico, venceu o Grêmio na raça, com três jogadores a menos e o atacante Pataca exausto. No último minuto da partida, o herói dos jogos decisivos do Fla fez o gol de empate que levou o jogo para a disputa de pênaltis. O goleiro Vagner, o “Barreira Humana” pegou os três pênaltis batidos pela equipe do Grêmio enquanto os batedores do Fla converteram os seus três. Agora na final, com o Maracanã lotado, os arqui-rivais se encontram novamente. Frente a frente os atacantes Pataca, artilheiro da competição com onze gols e Araújo, o artilheiro cruzmaltino com cinco gols na competição e quinze na temporada. A esperança vascaína no artilheiro Araújo esbarra em um tabu: Araújo nunca marcou um gol sequer em cima de Vagner. A final pode entrar para a história como a mais incrível dentre todas que os dois times já disputaram. O juiz apita, a bola rola e o Maracanã começa a tremer com a festa das torcidas. Os gritos incentivam os times em campo, mas quem se vale primeiro da empolgação é o Vasco. O atacante Araújo é lançado na direita como um típico ponta, acompanhado por Tonhão, o “Colosso”, mas o artilheiro ganha na corrida, vai à linha de fundo e cruza para trás. Domingues entra sozinho pelo meio, enche o pé, vence o “Barreira Humana” e faz a alegria de sua torcida primeiro. Vasco um, Flamengo zero. O primeiro tempo acaba sem mais mudanças, porém recheado de emoção. Durante o intervalo a torcida do Flamengo se aquieta e a torcida do Vasco aproveita para se agigantar. Os times voltam para o segundo tempo sem alterações. O jogo recomeça. Com pouco mais de três minutos, um garotinho de dez anos, chamado Lucca, com sua mãe no meio da torcida do Flamengo se espanta ao ouvir os gritos ensandecidos da torcida: - Cadê a raça? Queremos raça! Queremos raça! Queremos raça! Lucca vira-se para sua mãe e faz uma pergunta que mudará a história deste jogo. - Mamãe, porque estão gritando assim? A senhora não disse que a raça do Flamengo está na torcida? Ao ouvir tal pergunta, um torcedor próximo aos dois, líder de uma das torcidas lembra-se da coisa mais importante do Flamengo: A raça somos nós, sua torcida. E ele então começa a fazer o que a torcida Rubro-Negra faz de melhor, empurrar o time ao som dos gritos de: - Mengo! Mengo! Mengo! No campo os gritos da galera incendeiam o time. A apreensão muda de lado. A torcida vascaína se aquieta. A torcida do Fla cresce e multiplica-se, toma o Maracanã. O time assume o controle do jogo e imprensa o Vasco em seu campo de defesa. O Vasco já não consegue jogar, se encolhe. O Flamengo cresce. A torcida empurra. A pressão aumenta e o Maracanã vira um caldeirão. Caldeirão para assar Bacalhau. O Vasco, depois de quinze minutos de pressão ininterrupta do Flamengo, consegue sair num contra ataque rápido. Pataca volta correndo para ajudar a marcação na defesa. Como no primeiro gol, Araújo é lançado, mas desta vez a história é diferente. Tonhão faz o corte preciso. A bola espirra e sobra para Pataca que voltava ajudando a marcar. Sem pestanejar ele domina a bola e aí, para ele o tempo começa a se mover mais lentamente. Ele olha para o gol do Vasco, olha para a arquibancada e consegue enxergar seu falecido pai, com a velha camisa rubro negra falando para ele: “Corre filho. Contra o Vasco você tem que se superar”. Pataca sente os olhos encherem-se de lágrimas, ainda mais por ter voltado para o segundo tempo no sacrifício, cheio de dores no púbis. Ele balança a cabeça e a velocidade da vida volta ao normal. Domingues vem em sua direção para tentar roubar-lhe a bola, mas tem a mesma rolada no meio de suas pernas. A torcida delira. Pataca retoma o controle da bola e parte em direção ao gol. Juca, um volante desleal, vem numa tesoura voadora para cima de nosso atacante, mas passa no vazio. Pataca empurra a bola para a esquerda e sai para a direita. A torcida vibra e grita mais. Seu púbis pega fogo. Ele corre. O zagueiro Alceu sai para interceptá-lo e toma um chapéu glamuroso. Só restam ele, o goleiro e o gol. O goleiro vem saindo. Pataca não chuta. As torcidas ficam apreensivas. Não, ele não vai fazer isso. Sim, ele vai. Vai fazer o gol de placa. Pataca dribla o goleiro, mas não chuta. Não, não é o gol de placa que ele quer. Ele quer entrar com bola e tudo. O goleiro desaba no chão e não consegue pará-lo. Pataca entra com bola e tudo no gol do Vasco. A torcida do Flamengo enlouquece ao vê-lo dentro do gol, agarrado a rede e agora fotografado pelos jornalistas. É o empate da raça. Flamengo um, Vasco também um. Na torcida, o pequeno Lucca pula e grita muito com o gol de seu time. Aquele torcedor levanta o pequeno e o coloca a sua frente. - Pequeno, obrigado por me lembrar que a raça do nosso time vem daqui, da torcida na arquibancada. - Mas tio, ainda não acabou. Ainda tem o segundo jogo. - É sim pequeno. E você tem que vir. A partir de hoje você é o nosso talismã. No campo o juiz apita o final do jogo. A primeira batalha termina empatada. Emocionalmente o Flamengo venceu. Agora é preparar os times, as torcidas e, principalmente, os corações para os noventa minutos finais na próxima quarta-feira.
Léo Rodrigues
Enviado por Léo Rodrigues em 26/02/2007
Alterado em 02/07/2007 |