Luxúria
Barra da Tijuca, um bairro nobre da zona oeste do Rio de Janeiro. A Casa de Miranda é uma das mais badaladas do local. Ninfetas, virgens, piranhas velhas, mas de linha, travestis, rapazes, tudo que se pode imaginar em termos de sexo você vai encontrar na Casa de Miranda. Às vezes até mais do que isso...
Após um dia de trabalho exaustivo, Joel, não tendo motivos para voltar para casa, já que sua esposa, Sônia, resolveu viajar sozinha, às suas custas, resolveu dar uma esticada numa happy hour. Tudo muito bom, tudo muito bem, mas nas horas em que estamos pensando em fazer alguma coisa idiota sempre aparece um capeta para impulsionar-nos na direção da besteira. E assim foi com Joel. Ele começou a bater papo com um camarada no bar cuja lábia começou a arrancar de Joel toda a sua frustração e angústia em sua relação com Sônia. Como bom sinistro, Rangel indicou a Joel a Casa de Miranda, um lugar onde ele poderia enterrar suas insatisfações e abrir os braços a toda sua luxúria fantasiosa. E assim foi, seguindo para a tal casa a fim de curtir o fim de noite. Joel em busca de um bom sexo, uma boa sacanagem e Rangel, bem, ele queria outras coisas... Na Casa de Miranda os dois foram recebidos pela dona do lugar com tratamento muito especial. - Seja bem vindo Rangel, quem é o seu amigo? - Este é o Joel, Miranda. Ele está meio triste e desolado, precisando de um bom cuidado. - Hum, eu devo ter a coisa certa para ele. Do que você gosta rapaz? Ninfeta, mulher, rapazes, travestis, inversão, sodomização, diga-me qual sua fantasia? - É, bem, calma, eu não sou muito adepto de casa de massagem. - Hum, deixe-me ver. Miranda segura a mão de Joel e o homem sente um calafrio percorrer-lhe a espinha. - Hum, você é casado não é? - Sou. - Mas não tem transado com sua mulher. - Não, mas como... - Ela tem experiência, Joel, fique tranquilo. – intromete-se Rangel. - Eu tenho a pessoa certa para você meu rapaz. Rangel, leve-o até o quarto treze que já, já, mandarei uma companhia para lá. - Está bem. Seguindo Rangel e sem entender absolutamente nada, Joel sobe as escadas que dão acesso aos quartos. - E agora, o que acontece Rangel? - Agora, Joel, você vai ter a noite mais inesquecível de sua vida. Todos aqueles que ela manda para o quarto treze tem atendimento vip. - Isso significa... - Que você terá o sexo mais arrebatador de sua vida. - Agora eu comecei a gostar. Sem muita demora, três pessoas entram no quarto. Uma menina estilo ninfeta, uma mulher já na casa de seus quarenta anos e um andrógino que Joel percebe logo pela fala se tratar de um travesti. - Opa, calma aí, eu não sou chegado nisso não. - Relaxa, Joel, tudo que acontece na Casa de Miranda, principalmente no quarto treze fica guardado aqui. - Negativo, deste aí eu estou fora. - Você quem sabe, gato, mas eu vou ficar por aqui caso você mude de ideia mais tarde. - Duvido muito. Entregando-se ao prazer da luxúria, Joel e Rangel vão saciando seus desejos mais lascivos com as duas mulheres, a ninfeta e a madura. Entre garrafas de vinho, uísque e outras bebidas, quando Joel se dá conta da situação, o travesti já está mais que envolvido na “brincadeira” e a única coisa que Joel passa a pensar é “porque não? afinal de contas no sexo vale tudo”. E a partir daí os cinco vão se embolando literalmente transformando em realidade tudo que sempre foi fantasia em sua cabeça, ou melhor, na cabeça de Joel. Por conta da ingestão de tanta bebida e da “atividade física” extrema, Joel se entrega ao cansaço e adormece. Se ele fosse um cara mais malicioso, ele sequer teria se deixado entrar nesta dança. Um pouco depois Joel acorda deitado de bruços em uma cama, mas não uma cama comum e sim uma cama de pedra. Atado por correntes em sua cabeça, tornozelos, pulsos devidamente esticados numa posição que expõe algumas de suas partes, nu em pelo e com seu “camarada” caído num buraco no meio da tal cama. - O que é isso? O que está acontecendo? Rangel? - O Rangel não está, serve eu? – o travesti. - Qual é cara? Porque eu estou assim? Eu não curto sadomasoquismo. - E quem falou em sadomasoquismo? - Escuta aqui seu viado, me solta desta porcaria. Eu não vou pagar por serviço nenhum. - Pagar? – a voz do travesti engrossa. Você não precisa se preocupar com pagamento não, Joel. Você deveria ter se preocupado com suas escolhas. - Como assim? - Você achou que se entregar a uma noite de puro sexo e luxúria resolveria seus problemas? O sexo realmente é uma arma poderosa para obtermos sucesso em nossos intentos sabia? - Do que você está falando? - Vou te explicar. Daría, afrouxe a corrente do pescoço para ele virar a cabeça para cá. A ninfeta afrouxa o suficiente da corrente para que Joel apenas vire a cabeça para o outro lado e já puxa firmemente novamente de modo a prendê-lo e ele não acredita no que vê. O demônio que ele vê agora só lembra o travesti de poucas horas atrás pela voz. Seu corpo é uma espécie de androgenia, com os seios que caracterizam uma mulher, um pênis grande e rijo, patas de cabra, chifres como os de um bode e asas semelhantes as de um morcego. - Meu Deus. - Isto não tem a ver com ele, Joel. Tem a ver com o outro, com meu mestre, Lúcifer. - O que, quem, é você? - Eu sou Lazerath um servo fiel de Asmodeu, o Demônio da luxúria. Agora nós vamos terminar sua introjeção. Sua linha sanguínea é muito boa para ser desperdiçada pelos malditos anjos. - Introjeção? Nunca, eu não aceito suas crenças. - Você aceitou no momento em que fez sexo comigo, Joel, ou você esqueceu? Agora nós só iremos terminar nosso ritual e você poderá se tornar mais um de nossos demônios lacaios. - Não! - Daría se encarregue de sua parte que eu começarei a minha. Enquanto Daría se posiciona de modo a ser penetrada por Joel, desta vez dentro do ritual, e Lazerath se prepara para penetrar o pobre coitado, cuja única culpa foi ter se deixado levar pelo prazer de uma noite de luxúria, ele se lembra das palavras de seu pai, um homem criado dentro da doutrina da igreja católica: Joel, por mais que erremos em nossa vida, Deus nunca nos dá as costas. Se você se vir diante de um mal que possa vir a assolá-lo, apegue-se a Ele. Lembre-se, a oração que ele nos ensinou tem força se for entoada com fé. Dentro do desespero que o assola, Joel passa a rezar o Pai Nosso, na esperança que Deus o ajude neste momento de desespero. Uma coisa é ele querer participar de uma orgia sexual, outra é ele ter se metido sem saber numa orgia demoníaca. - Pai Nosso, que estais no céu... - Você acha que vai adiantar sua reza? Desista e prepara-se para me receber dentro de ti para tornares mais um lacaio de Asmodeu e de Lúcifer. Sem parar sua oração, Joel sente a proximidade do demônio. Tudo em sua vida está prestes a ser destruído, mas ele não perde a fé nas palavras de seu pai nem no Pai de todas as coisas, Deus. Um relâmpago cruza espocando e o ribombar de um trovão. Joel sente um reconforto em sua alma, enquanto sente o demônio estremecer. Será que Deus escutou suas preces? - Não foi nada Daría, vamos prosseguir. O estrondo da porta sendo arrebentada assusta Joel, que nada pode ver agora e mais ainda o demônio. Sim, Deus ouviu as preces de Joel. - Como pode, como ousa interromper Lazerath? - Posso pelo poder que Nosso Senhor Jesus Cristo conferiu àqueles que lutam contra o mal, demônio. - Eu, eu conheço você. Você é Andreas Richter. - Sim demônio, eu sou o caçador Andreas Richter, filho do Barão Marc Richter, Caçador da Ordem da Cruz Celeste, aquele em quem o Senhor pode depositar sua confiança para extirpar o mal que assola a Terra ainda nos dias de hoje e que eu tive o prazer de ajudar a varrer durante toda a eternidade em que caminho por aqui. A demônio ninfeta Daría, na tentativa de pegar Richter de surpresa se lança em sua direção para ser recebida por uma saraivada de tiros. Dentro dos projéteis, que estouram dentro de seu corpo, uma pequena cápsula de água benta se arrebenta. - Christum ad infernum vile creatura. (Por Cristo, retorna ao inferno criatura vil). – entoa Richter brandindo uma Cruz de Prata na direção de Daría, que explode numa nuvem de enxofre. - Achas que pode me enfrentar, Caçador? Lazerath avança na direção de Richter que se defende da primeira investida com uma esquiva tão rápida que impressiona o demônio. Mesmo assim, lutar contra um demônio, mesmo sendo um demônio menor, não é algo fácil. A garra passa pelo flanco direito de Richter rasgando sua proteção por pouco não chegando a sua carne, mas Richter não andou por tantos nesta terra, desde o tempo da inquisição, sem aprender novas artes. Com o último ataque, Lazerath ficou próximo o suficiente para o Caçador cravar-lhe em suas costas uma faca. - Isso nem me fez cócegas Caçador. - Tolo. Imo veni, reddes eis crux Christi Domini nostri. (viestes das profundezas, a elas retornarás, pela Cruz de Cristo nosso Senhor) A faca, com o exorcismo entoado por Richter gravado em toda sua extensão, é tomada por uma luz infligindo ao demônio uma dor terrível. Agonizando, Lazerath vê uma passagem para o inferno se abrir, um vento começar a soprar dentro do aposento e uma força sugá-lo de volta as profundezas como um tufão. Cansado, Richter encosta um de seus joelhos no chão a fim de se recobrar. Exorcizar Lazerath e Daría lhe tomou uma grande quantidade de sua energia vital, mas não é nada com a qual ele já não esteja acostumado. Ele se levanta e vai até Joel, que agora agradece a Deus por sua salvação. Destruindo os grilhões, Richter ajuda o homem a levantar-se - Você está bem? - Si, sim, agora estou. Graças a você. - Vista-se homem. Temos que sair daqui rápido, pois nem todos que matei aqui eram demônios. Sem pestanejar, Joel veste a primeira roupa que encontra no chão e acompanha Richter para fora dali. Eles caminham por um longo corredor até uma escada que leva aos fundos do prostíbulo. Pelo caminho, Joel vai observando o tanto de pessoas mortas e marcas no chão que aparentam que ali haviam corpos. - O que...? – diz Joel puxando a camisa de Richter, apontando para as marcas. - Estas marcas são os demônios que eu exorcizei até chegar a você, homem de Deus. Nem todos os humanos que sofrem exorcismos são simplesmente abandonados pelos demônios. Em sua maioria o corpo é consumido pelo enxofre do capeta. Chegando a porta dos fundos, Richter puxa Joel para fora do prostíbulo e praticamente o arrasta. - Nós, nós temos que chamar a polícia. - É? E você acha que a polícia vai acreditar na sua história? Porque eu não vou explicar nada para ninguém. - Mas, eles têm que tomar providências. - Escute uma coisa homem. A casa irá explodir, eu plantei cargas lá dentro para isto, ok? O demônio queria você por conta de seu sangue. Você é uma daquelas pessoas que são valiosas para Deus e sendo assim se torna valiosa para o demônio também. Aceite meu conselho, se mantenha longe do pecado, principalmente daquele que o levou até aquela casa, a luxúria. A luxúria é um dos pecados cuja força é mais poderosa. Eu estou nesta luta há muitos anos e não quero perdê-la. Nosso Senhor Jesus Cristo me mostrou ao longo destes anos tudo que eu precisava ver, aprender e fazer em benefício da vida da humanidade de sua salvação, mas se vocês não fizerem algo por si mesmos, de nada adianta minha vida. Aproveite sua segunda chance, pois você pode não ter outra. Adeus. Richter vira as costas e caminha para fora do beco. - O que você quis dizer com o meu sangue ser valioso para Deus? - Isto você terá que descobrir por si mesmo, mas lembre-se, afaste-se do pecado. Ele o levará sempre ao encontro de Lúcifer. Dizendo estas últimas palavras, Richter aciona a carga e uma série de pequenas explosões ocorre dentro da casa ocasionando um incêndio. Mais um altar de sacrifícios e adoração à Lúcifer está destruído pelo Caçador Andreas Richter e mais uma alma está salva e orientada a desviar-se do caminho do pecado, pelo menos o da luxúria. Mas, por quanto tempo? Léo Rodrigues
Enviado por Léo Rodrigues em 07/04/2012
Alterado em 07/04/2012 Copyright © 2012. Todos os direitos reservados. Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor. |