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Uma Cilada para Ramos - Parte II
     Chegando ao barco de Dominique, Ramos é levado direto a uma cabine.
          - Fique à vontade Ramos. Providenciarei um smoking para que participe da festa comigo.
          - Vai me trancar aqui?
          - Não. Como disse, você é meu convidado.
     Dominique vai até uma pequena mesa e despeja o conteúdo de uma garrafa num copo.
          - Uísque Ramos?
          - Não.  Prefiro água.
          - Hum, vou ficar devendo. Se quiser beber comigo, terá que ser uísque mesmo. Tome.
     Dominique estende o copo para Ramos e enche outro.
          - Um brinde Ramos.
          - A que?
          - Que tal, hum, deixe-me ver, que tal um brinde a nós?
          - Nós?
          - É, nós. Você verá que não sou uma pessoa tão ruim como pensa. E quem sabe não possamos ser – ela aproxima-se do rosto de Ramos e passa a língua em sua orelha – bons amigos, hã?
          - Pode ser.
     Não tendo nada a perder Ramos vira o copo de uísque sorvendo todo o líquido de gole só.
          - Bom Ramos. Tenha bons sonhos viu?
          - Eu já imaginava que você fosse fazer algo. Drogou a bebida, correto?
          - Claro. Eu não quero que meu gatinho saia andando pelo barco sozinho. Há outras mulheres a bordo e eu sou muito ciumenta, viu? Até logo.
     Dominique lança um beijo para Ramos e sai da cabine. O agente se deita antes que a droga faça o efeito esperado e ele acabe desabando no chão. Cinco minutos são suficientes para que ele durma profundamente.
     Aproximadamente três horas depois, tendo passado o efeito da droga, Ramos acorda com uma dor de cabeça fenomenal. Olhando o quarto com certa atenção, vê que em cima da mesinha onde estava a bebida encontra-se outra garrafa, desta vez uma garrafa de vidro transparente, um comprimido e um bilhete com a seguinte inscrição: “Consegui sua água, vai custar um pouco caro, mas você saberá como pagar. Tome o comprimido, vai amenizar os efeitos da droga, tome um banho, vista-se e esteja pronto às dez. Um beijinho. D.” Ramos, apesar de tudo, consegue rir do bilhete.
     As dez em ponto, a porta da cabine é aberta e Dominique se apresenta para Ramos dentro de um vestido fantástico. Preto, colado ao corpo e realçando suas belas curvas. “ Não tinha percebido o quanto ela é bonita.” Pensa Ramos.
          - O que acha Anderson? Fico bem de preto?
          - Fica sim Dominique. Bem demais eu diria. Posso te fazer uma pergunta?
          - Ainda não Ramos. Eu sei mais ou menos o que quer saber, mas eu não vou ser estraga prazer.
          - De quem?
          - Você faz muita pergunta Ramos. Vamos, me dê o braço e venha.
     Dominique estende o braço para Ramos. Por um momento ele pensa em deixar que tudo corra como a jovem quer deixar parecer, mas seu instinto lhe diz para agir de forma contrária. Ele dá o braço a jovem e segue em sua companhia até o salão onde está ocorrendo a pequena festa.
     Chegando ao salão, Ramos observa atentamente as pessoas que ali se encontram. Enquanto observa, Dominique, como que lendo seus pensamentos, cochicha algo em seu ouvido.
          - Não se preocupe. Nenhuma destas pessoas representa problemas. Nem para você nem para mim. São todos empresários.
          - E desde quando empresários não representam problemas?
          - Ah sim, esqueci do assassino de seu irmão.
          - Eu já estou cansado deste joguinho Dominique. – diz Ramos apertando o braço de Dominique. Para mim chega, tá na hora de esclarecermos o que está havendo aqui.
     Dominique não se abala, embora sinta doer o aperto dado por Ramos, mas apenas meneia sua cabeça na direção de um dos seguranças que rapidamente se posiciona atrás de Ramos e encosta o cano de sua pistola em suas costas.
          - É melhor me soltar Ramos, ou eu realmente ficarei zangada e aí o Duran não terá o menor melindre em te dar um tiro pelas costas e a queima roupa.
          - Dominique, se você sabe tanto a meu respeito, deve saber também que isso não me intimida. Já estive em situações piores.
          - Eu sei disso. Mas sei também que nunca esteve numa situação em que seus captores fossem amigos e não inimigos.
          - Explique melhor.
          - Está bem. Mas antes solte meu braço, não quero ficar com nenhuma mancha roxa pelo corpo. Não posso trabalhar como modelo assim. Duran pode deixar, o senhor Ramos vai se comportar agora, não vai Ramos?
     Ramos não responde e Dominique faz sinal para um homem que se encontra do outro lado do salão conversando com um casal. Atendendo ao aceno da bela jovem, o homem deixa o casal e vem na direção de Ramos e Dominique.
          - Dominique, linda como sempre.
          - Obrigada T.J.
          - Agente Anderson Ramos. É um prazer conhece-lo.
     T.J. estende a mão para Anderson, mas o cumprimento não é retribuído.
          - Ramos está um pouco nervoso T.J. Ele quer saber o que está havendo.
          - Bem Ramos, seria melhor para você não saber, mas já que está tão curioso, vou contar. Me acompanhe, por favor. Vamos até minha cabine. Você vem Dominique?
          - Claro que sim T.J., eu tenho um interesse particular em toda esta história.
     Enquanto segue o novo personagem que se apresentou para ele nesta estranha trama, Ramos força sua mente na tentativa de saber se já ouviu falar neste tal T.J. Sua face não é de todo desconhecida para ele, mas ele não consegue ligar o nome à pessoa ou a algo que possa fazê-lo lembrar. Está tudo cada vez mais nublado em sua mente.
     Chegando a cabine, T.J. faz sinal para que Ramos se sente enquanto ele e Dominique se acomodam, cada um, em uma confortável poltrona existente no cômodo.
          - Ex detetive Anderson Ramos, atualmente agente especial Ramos do governo brasileiro, irmão de Sandro Ramos, um ex agente assassinado por um traficante de armas chamado Daniel, que foi morto em estranhas condições. Aliás, você ainda é suspeito pela morte dele, correto?
          - Como você sabe tanto a meu respeito?
          - Eu sei mais do que você imagina Anderson. Enquanto o dinheiro mover o mundo eu sempre vou saber de tudo.
          - Quem é você?
          - Eu me chamo T.J.
          - Disso eu já sei. Seja mais específico.
          - Você sabia que foi traído Ramos?
          - Por quem?
          - Você sabe a resposta mais do que eu.
          - David?
          - Viu como você sabe? A única pessoa que sabia que você estava na Barra de Maricá atrás do Tigre. Aliás, porque um traficante poderoso como o Tigre se envolveria com três chinfrins como Roberto, Bruno e Castro?
          - Os três estavam crescendo. Poderia se tratar simplesmente de uma chance para tirar três possíveis problemas futuros do caminho.
          - Você é inteligente Ramos. Mas não era para tirar três pedras do caminho. Era para tirar você de circulação. Em definitivo.
          - Dominique não é o Tigre.
          - Não sou mesmo. Embora o Tigre realmente seja uma mulher. E o David sabia disso.
          - Vejamos se eu entendi bem. O Tigre, ou a tigresa, foi avisado pelo David que eu estava atrás dele. Entrou em contato com os três idiotas sabendo que eles deixariam um rastro fácil sobre tudo para que eu fosse atrás. E quando eu estivesse no lugar deles para negociar, eu seria morto.
          - Bravo. Você é muito bom Ramos.
          - Pena que não saiba escolher seus amigos.
          - Mas, porque o David iria me querer morto?
          - Ramos, porque você iria querer Daniel morto?
          - Por que ele matou - ele pensa um instante - espera aí, faz sentido, mas o David, pelo que consta em sua ficha, não possui nenhum irmão ou alguém que pudesse ter atravessado meu caminho.
          - Ramos, não seja ingênuo. Você é o responsável pela morte do irmão dele. Como é a vida não? Daniel mata Sandro Ramos, e você se torna seu assassino. Depois, você mata o irmão de David, Denis, e vira alvo de David.
          - Eu não matei o Daniel.
          - Matou sim Ramos. Eu não estava lá, mas o Vinícius estava. E viu tudo. Eu sei tudo o que houve naquele galpão Ramos. É meu trabalho saber isso. Interrogar agentes, fuçar sua vida...
          - E impedir que sejam mortos.
          - Sim, isso também.
          - Quem é você afinal de contas?
          - Eu sou um Zerado do P.I. Assim como Denis, o irmão de David, que você matou na Itália. Lembra-se? Dentro do metrô.
          - Então o irmão de David era um agente duplo?
          - Sim, Ramos. Assim como ele.
          - Mas não conseguimos provar nada sobre nenhum dos dois. Primeiro porque David é muito liso.
          - E segundo porque você matou uma das provas.
          - Denis.
          - Exato. Desde a Itália eu acompanho você Ramos. Você é bom, mas acabou se metendo num problema que não era seu.
          - Agora o ingênuo é você. Se você sabe tanto assim, deve saber os motivos que me levaram a Itália.
          - Sei, a pista que poderia levá-lo ao assassino de seu irmão.
          - Eu descobri que David armou para te matar naquela praia Ramos, junto com os três traficantes idiotas. Estava tudo armado para isso.
          - Você ia morrer e se tornar o quarto traficante no local, entendeu? David, com a ajuda de sua mulher, daria fim a sua vida e resolveria dois problemas de uma só vez.
          - Acabar com o assassino do irmão dele e com o perseguidor de sua adorável esposa.
          - Então David é casado?
          - Sim. E na verdade, podemos dizer que se trata de Tigre e Tigresa. Ela responde como traficante de armas, mas na verdade, o Tigre, é ele.
          - E porque ainda não o pegaram?
          - Como eu disse, faltam provas. Saber que ele é, não implica em provar nada. Temos que ter algo concreto.
          - Vocês salvaram minha vida então? – diz Ramos com uma pontinha de ironia.
          - Na verdade não Ramos. Você está morto.
          - Morto?
          - Sim. Você agora também se trata de um Zerado. Seja bem vindo ao P.I.
          - Afinal de contas, que diabo é isso de P.I.?
          - Portal do Inferno. Um segmento do governo, inexistente, voltado para resolver problemas dos mais variados tipos.
          - E se eu não quiser entrar para o P.I.?
          - Prefere continuar sendo caçado pelo David? Trabalhando conosco, você estará em igualdade de condições com ele e nos ajudará a resolver nosso maior problema dos últimos anos. Não aceitando, você volta como se tivesse conseguido fugir da chacina da praia Barra de Maricá e continua a mercê dele, pois mesmo que você não queira, ele sempre saberá de todos os seus passos.
          - Um morto não tem rastro.
          - Este é o espírito da coisa. Então?
          - Eu topo.
          - Viu Ramos? Eu disse que nos tornaríamos bons amigos, hã?
     Dando um sorriso malicioso para Ramos, Dominique levanta-se e, andando de forma sensual, segue até a porta da cabine.      Ela se vira novamente na direção dele.
          - Venha comigo, sim? Eu não te farei nenhum mal.
     Ramos levanta-se e segue até a jovem.
          - É uma pena que não.
          - Bem, quem sabe se você implorar?
          - Hum, que tal para começar, nos tornarmos – ele se aproxima dela e faz o mesmo que ela fez anteriormente, passa a língua em sua orelha – bons amigos?
          - Eu adoraria. Vamos.
     Sem saber se a história de Dominique e T.J. é realmente verdadeira, Ramos decide entrar no jogo da bela mulher a fim de ganhar tempo e descobrir a verdade. Resta saber o que ainda pode estar por vir neste estranho jogo de suspense. Sua única certeza: não confiar em ninguém.
     Dentro da cabine, T.J. recebe um telefonema.
          - Alô? Sim chefe, tenho boas novas. Ramos é nosso.


Léo Rodrigues
Enviado por Léo Rodrigues em 04/01/2007
Alterado em 13/02/2007


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