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Uma Cilada para Ramos - Parte I

     Barra de Maricá. Bela praia do litoral carioca. Bruno e Roberto, dois traficantes de armas se encontram na beira da praia aguardando a chegada de um comprador. Próximo a eles, um mendigo, sentado no chão, abraçando os joelhos, observa o mar de forma absorta.
          - Não to gostando disso, Bruno.
          - Calma, Roberto. O Tigre não vai bobear. É muita grana em jogo.
          - Não é isso. É este clima estranho.
          - Que clima cara? Tá tudo normal. Quer um lugar mais tranqüilo do que esta praia? Ninguém costuma andar por aqui. Nem a polícia nem os agentes do governo.
          - Droga. Continuo não gostando. E esse mendigo aí?
          - O que tem?
          - Aqui nunca teve mendigo na beira da praia.
          - Também nunca teve traficante de armas, Roberto. Relaxa cara. Daqui a pouco o Tigre chega, a gente entrega as armas, pega o dinheiro e parte rumo a Foz do Iguaçu. De lá passamos pra Argentina e seguimos para Portugal.
          - Será que o Nuno já levantou tudo que pedimos?
          - Claro que sim. O cara é profissional.
     Entretidos na conversa, os dois traficantes nem perceberam a aproximação do mendigo.
          - Uma esmola, pelo amor de Deus.
          - Hei, qual é? Sai daqui cara. – diz Roberto empurrando o mendigo.
          - Que isso rapaz? Deixa o cara. Ele é só um mendigo. – diz Bruno se interpondo entre Roberto e o mendigo.
          - Só um mendigo é o cacete. Sai fora mermão.
          - Desculpa, eu só queria um dinheiro pra comer alguma coisa.
          - Tranqüilo cara. Vou te dar uns trocados.
     Bruno puxa uma nota de cinqüenta reais para dar ao mendigo, mas é contido por Roberto.
          - Qual é Bruno? Cinqüenta conto pra um mendigo tomar de cachaça?
          - Porra Roberto, o dinheiro é meu, caralho. Além do mais de onde veio esta ela não fará falta. – e falando baixo – Porra cara, com este dinheiro o cara pode até se encher de pó, contanto que saia daqui.
          - Está bem. Dá logo o dinheiro que eu já estou ficando bolado.
          - Hei irmão. Toma.
          - Deus lhe pague. – Diz o mendigo segurando o dinheiro.
          - Já pagou. Estamos indo pra Portugal amanhã, e lá não encontraremos mais mendigo em praia nenhuma. – Diz Roberto.
          - Engano seu Roberto Álvares.
          - O que?!?
     Antes que Roberto se recupere da surpresa, o mendigo dá um giro sobre um dos pés e acerta em cheio o calcanhar em seu rosto. Bruno saca sua pistola, mas recebe uma rasteira que o faz largar a arma. Sequencialmente o mendigo acerta mais um chute em Roberto, direto na cabeça, que o leva a inconsciência. Na continuidade de suas ações ele puxa uma arma e aponta para a cabeça de Bruno.
          - Que, quem é você?
          - Alguém que está atrás de vocês há muito tempo, Bruno.
          - Esta voz, não acredito, o maldito Ramos.
          - Sim Bruno. Você tem duas opções, ou colabora comigo ou morre igual ao Daniel. O que você prefere?
          - O que eu ganho se te ajudar?
          - Não perde. A vida. Colabora ou não?
          - O que quer saber?
          - Quem é o comprador das armas e onde elas estão?
          - O comprador tem muito dinheiro. Tenho certeza que pode sobrar um pouco pra você, Ramos.
     Ramos encosta o cano do silenciador no pescoço de Bruno e empurra até que ouça um gemido de dor.
          - Sem gracinha. Quem é o comprador?
          - É o Tigre.
          - Eu já deveria imaginar. Onde estão as armas?
          - Numa casa no final desta rua. – Responde Bruno apontando para a rua em frente.
          - Tem alguém lá tomando conta das armas?
          - Claro que não.
     Ramos agora bate com a coronha da pistola no nariz de Bruno, o que, inevitavelmente faz com que o mesmo se quebre.
          - Já disse para não ficar de gracinha.
          - Caralho, você quebrou meu nariz, seu filho da puta.
     Ramos agora segura o nariz quebrado e começa a apertar.
          - Minha mãe é uma senhora decente. Tem alguém na casa ou não?
          - Tem, ai, tem, o Castro está lá.
          - A corja completa. Isso é bom. Boa noite Bruno.
     Ramos bate com a coronha na nuca de Bruno e este apaga. Rapidamente ele arrasta o corpo dos dois homens para perto de um velho barco a remo, os amarra e amordaça e joga o barco sobre os dois. Não ficou um esconderijo perfeito, mas é o suficiente para que ele tenha tempo de terminar seu trabalho.
     Retirando os andrajos, Ramos ajeita a roupa que estava por baixo do disfarce de mendigo, retira a barba e a peruca falsa e fica pronto para receber o Tigre como um perfeito traficante de armas. Foi tudo estritamente calculado. O único ponto fora de seus cálculos é a presença de Castro na casa tomando conta das armas, mas isto é um ínfimo detalhe se levar em consideração a possibilidade de prender o maior traficante de armas da atualidade.
     O agente não espera sequer dez minutos e nota a aproximação de alguém vindo pela areia conversando animadamente. Dois rapazes e uma moça, muito bonita por sinal, que acaba chamando a atenção de Ramos. Os três param e enquanto os dois rapazes sentam-se na areia a moça vem em sua direção. Estranho, pensa ele, mas não toma nenhum tipo de atitude que possa prejudicar seu disfarce.
          - Olá. – Cumprimenta a jovem.
          - Olá jovem.
          - Esperando alguém?
          - Depende. – Responde Ramos.
          - Depende de que? Da pessoa que pergunta?
         - Depende do porque do seu interesse por eu esperar alguém. Você já tem companhia e eu não acho que seus amigos gostariam de perdê-la para mim.
          - Metido a gostosão você, hein?
          - Não sou não. Eu sou gostoso, que é diferente. Mas me diga, o que uma jovem bonita como você faz com dois caras com jeito de bobo numa praia como esta?
          - Passeando, e você?
          - Estou a negócios.
          - Negócios? Que tipo de negócios?
          - Eu negocio peixe. Dos grandes.
          - Capazes de alimentar um felino também dos grandes?
          - Claro. É minha especialidade.
          - Hum. Muito prazer. Dominique.
          - Roberto Álvares.
          - Roberto Álvares? Eu pensei que você fosse mais baixo.
          - E eu pensei que fosse me encontrar com um homem.
          - O Tigre não aparece logo de cara. Ele gosta de saber com que tipo de gente ele lida. E pelo que consta, vocês são novos no mercado de armas. E por falar em vocês, cadê seu sócio?
          - Ficou tomando conta dos peixes.
          - Vamos até lá então?
          - Eu não negocio com cupinchas. Onde está o homem?
          - Cupincha? Por que me ofende gato? Eu não sou cupincha de ninguém.
          - Não? Se trabalha pro Tigre e ele te mandou, o que você é?
          - O Tigre não me mandou. Você ao menos sabe por que o traficante de armas mais procurando internacionalmente é chamado de Tigre?
          - Por causa de uma tatuagem que ele possui em algum lugar do corpo.
          - Sim, exatamente.
     Eis que para surpresa de Ramos a loura levanta sua blusa e mostra um tigre tatuado no meio dos seios.
          - Não sabia que o Tigre era mulher.
          - Nem eu que o agente Ramos estivesse atrás de mim também.
     Ato reflexo, Ramos leva a mão a pistola, mas antes que faça qualquer coisa a jovem Dominique pula em cima dele. Sua pistola cai na grama enquanto o casal rola pelo chão. Antes que realmente possa fazer qualquer coisa contra a traficante, os dois acompanhantes da moça, que correram em seu auxílio, apontam suas armas para Ramos. Vendo que perdeu momentaneamente, Ramos levanta os braços e se rende.
     Carlos, um dos rapazes passa ordens pelo rádio e não demora cinco minutos, mais seis homens chegam ao local. A coisa está começando a engrossar, pensa Ramos.
          - Eu sempre quis conhecê-lo pessoalmente Ramos. Devo dizer que para mim é uma honra. Mas não posso perder tempo. Onde estão Roberto e Bruno?
          - Você não quer saber das armas?
          - Não. O tal de Castro já está morto e as armas já estão em meu barco. Eu quero saber o que fez com os dois, pois quero eliminar rastros antes de ir embora.
          - Estão ali. – Ramos aponta para o barco que usou para escondê-los.
          - Vá lá Hugo. Já sabe o que fazer.
     Hugo vai até o barco, tira-o de cima dos dois, que aliás já estão despertos e sob um olhar aterrorizado dos mesmos, os executa com um tiro na cabeça.
          - Devo supor que o próximo sou eu, certo?
          - Errado Ramos. Você vai comigo, vivo por enquanto. Tenho outros planos para você.
          - Tipo?
          - Você saberá gatinho. Em breve você saberá.
     Dominique faz sinal para Carlos que passa mais algumas ordens pelo rádio e sem demora começam a ouvir o barulho de uma pequena lancha a motor.
          - Bem, aí está nosso resgate Ramos.
          - Para onde vamos?
          - Para o meu barco lógico. Vai ter uma festinha lá e quero que você participe.
          - Como seu prisioneiro?
          - Claro que não gato. Como meu acompanhante e convidado principal.
     Ramos não consegue entender até onde Dominique quer chegar, mas uma coisa é certa se fosse para matá-lo ela já o teria feito, afinal de contas ele é um dos melhores agentes do governo brasileiro e com certeza para ela mata-lo iria aumentar muito sua moral e prestígio no submundo. Como ainda não sabe o que ela quer, um pensamento se faz importante: Enquanto há vida há esperança. Na primeira oportunidade que tiver, o Tigre, ou Dominique, ou seja lá quem for, verá que cometeu um erro fatal ao não mata-lo de imediato.
Léo Rodrigues
Enviado por Léo Rodrigues em 27/12/2006
Alterado em 27/12/2006


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