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Crônicas Adolescentes – Patinadoras - Texto 2 


               Ao longo de uma vida muitas pessoas se relacionam de alguma forma. Tanto rapazes quanto moças tem uma extrema capacidade em conquistar a amizade do próximo. É fácil demais para as meninas adolescentes conquistarem e solidificarem uma relação de amizade. Principalmente quando se tem algo em comum como estudar na mesma escola e, mais ainda, quando praticam o mesmo esporte.
            Com a convivência diária na escola e a noite na equipe de patinação artística, Sophia, Yasmim, Bruna, Amanda e Rafaela, salvo a pouca diferença de idade entre elas, vão se aproximando mais a cada dia. Na mesma balada, outros tipos de relação vão se formando de forma periférica.
            Em mais uma noite de treino a descontração por conta da maior proximidade traz uma ajuda mútua nas atividades. Mesmo o treinador tendo deixado as meninas a par de suas categorias de disputa. Por idade, Amanda e Bruna serão adversárias, assim como Sophia,
Yasmim e Rafaela também serão entre si.
            Bruna e Yasmim conversam durante seu alongamento observando Lucca, Sophia e Rafaela rodarem na quadra.
                         -          Eles são muito bons não é, Bruna?
                         -          Sim, muito. Será que a gente chega neste nível?
                         -         Segundo a Sophia basta treinar com a mesma vontade que patinávamos na escolinha que chegaremos lá.
             Lucca crava um Axel, um salto em que o patinador vem de costas faz a entrada de frente com a perna esquerda, se for destro, e se lança no ar com a direita girando em uma volta e meia.
                         -          Que lindo!
                         -          O salto ou o Lucca, Bruna?
                         -          Os dois.
             Lucca configura a saída de seu salto e já voltando a rodar lança um olhar significativo para Bruna, que fica vermelha.
                         -          Bruna você ficou igual a um tomate.
                         -          Fiquei? – pergunta a jovem corada de vergonha.
                         -          Você está gostando dele não é?
                         -          Tá gostando de quem Bruna? – pergunta Amanda cuja presença não foi percebida pelas duas amigas.
                         -          Dos patins novos que ela ganhou do pai, Amanda. Olha como são bonitos.
                         -          Sei. Pelo tom das duas, vocês pareciam estar falando do Lucca.
                         -          E se fosse Amanda? Você iria ficar com ciúme? Você disse que ele era uma malandrão.
                         -          Bom, é que...
                         -          É que você tem uma quedinha por ele também, não é amiga? Vai virar triângulo amoroso.
                         -          Eu vou treinar sabe. Você está muito engraçadinha, Yasmim.
                         -          É eu também vou. – diz Bruna ainda extremamente corada.
                         -          Bom, então vamos não é. A brincadeira não caiu legal. Desculpa.
               As três amigas começam a rodar na quadra a fim de se aquecerem. A piadinha de Yasmim foi um pouco além da brincadeira para Bruna e Amanda. Para Bruna por conta de sua timidez e para Amanda, por esta querer esconder que realmente tem uma queda por Lucca. Como para as meninas a amizade está acima de qualquer brincadeira, mesmo que não tenha muita graça, a piadinha é rapidamente esquecida e não precisa mais que cinco minutos de treino para que elas já estejam saltando, se ajudando e principalmente brincando.
               Já com a equipe toda na quadra, o treinador faz uma rápida reunião explicando os fundamentos do treino de hoje. Como seu objetivo é fazer com que todos alcancem o mesmo nível técnico, os primeiros trinta minutos serão de exercícios de entrada e saída de salto simples com uma pequena dose de força a mais para que os saltos comecem a passar de uma volta, caindo no mínimo em uma volta e meia. Lucca, Sophia, Rafaela, Rogério e Matheus por serem os mais experientes terão que dar uma ajuda aos mais novos.
                         -          Matheus acompanha o Pablo e o Juan, Rafa fica com Amanda e Yasmim, Rogério com Lorena e Bruna, Sophia com a Moniquinha e a Lili e Lucca fica com o Christiano. Vamos lá crianças, vamos treinar.
               Lucca demonstra nitidamente em seu semblante que não gostou nem um pouco da divisão feita por seu pai. Christiano começa o exercício e o gêmeo não lhe dá a atenção ordenada pelo pai, ficando de olho nos movimentos de Bruna. Não precisa mais que cinco minutos para que o jovem patinador venha reclamar.
                         -          Qual é Lucca, você não vai me ajudar não? Só porque seu pai disse que disputaremos na mesma categoria? Se o problema for este me avisa que eu me viro sozinho.
                         -          Como é que é? – a pergunta pega Lucca de surpresa.
                         -          Se não pode me ajudar porque seremos adversários avisa que eu dou meu jeito.
                         -          Deixa disso Christiano. Desculpa. O problema não é esse não. Eu te ajudo na boa.
                         -          Qual o problema então? Eu estou fazendo o exercício e você fica olhando pro outro lado. Não quer ver o que eu faço?
               Sophia, sempre ela, que já percebera o problema, se aproxima dos dois a fim de tirar o irmão do pequeno embaraço e não deixar que um clima ruim e tenso se forme em volta dos dois rapazes.
                         -          Posso saber o que está havendo?
                         -          O teu irmão não quer me ajudar.
                         -          Eu já disse que não é isso.
                         -          O que é então?
                         -          Calma Chris. Eu sei o que é. Não é nada com você. Lu, papai não colocou você com o Christiano à toa, pois você tem potencial técnico e sabe disso. E ele precisa de alguém crítico como você para melhorar seu desempenho. Deixa a Bruna treinando com o Rogério e se concentra nele.
                         -          Poxa Phi, eu queria trabalhar na melhora dela.
                         -          Sei, você quer é se aproximar mais dela. Christiano, o Lucca não ficou chateado em treinar você não. Ele queria estar perto da Bruna, não tem nada a ver com você.
                         -          É Christiano, foi mal. Eu queria estar com a Bruna, não tem nada a ver com treinar um adversário não. Até porque eu prefiro ser vencido por um amigo a alguém de algum clube que eu nem conheça. Desculpa o mau jeito, vamos treinar?
                         -          Vamos. Bom, dá pra me desculpar também? Eu tirei conclusões precipitadas.
                         -          Sem problemas, vamos lá. Eu vou fazer o movimento e você tenta me copiar o máximo que der. Depois você faz sozinho com minhas correções e numa terceira tentativa faz sozinho para eu ver onde você está errando e aí consertamos, ok?
                         -          Ok, vamos lá.
                         -          Dinada, viu Lu?
                         -          Ô Phi, brigadão de novo maninha.
               Lucca dá um beijo rápido na irmã e volta ao treino com Christiano, prestando atenção somente no rapaz. O que, sem que ele perceba, deixa Bruna um pouco triste por não receber sequer um olhar do jovem gêmeo.
               O treino se desenrola de forma bastante tranqüila, com algumas quedas é claro. Afinal de contas não existe treino de patinação artística sem que ocorram quedas e mais quedas. Aliás, Lucca puxou ao pai, pois as suas chegam a ser cinematográficas. Quedas à parte, o resultado do treino se mostra excelente e atinge muito além da expectativa inicial de Léo. Os últimos trinta minutos são para um treino livre para os mais experientes da equipe e um treino mais voltado a currupios para os outros. A única exceção se faz justamente entre Lucca e Christiano que, a pedido do primeiro, continuam no treinamento de saltos. Como dissera Sophia, Lucca tem uma visão técnica muito boa e, percebendo que o jovem Christiano pode cravar um Axel – aquele salto de uma volta e meia – ainda nesta noite, resolve continuar com o rapaz.
               Aquela capacidade de rapazes e moças em conquistar amizade é realmente algo fantástico e se faz presente também na relação de Lucca e Chris. Os rapazes, adversários como algumas das meninas, parecem deixar tal questão de lado e vão, nas conversas, indo além das técnicas de patinação.
                         -          Você está a fim da Bruna, Lucca?
                         -          Acho que sim Christiano. Não tenho muita certeza ainda.
                         -          Como assim não tem certeza?
                         -          Bom, eu não parei ainda para conversar um pouco mais com ela para saber se combinamos.
                         -          Ah ta, entendi. Hum, deixa eu te fazer uma pergunta?
                         -          Corrige a postura.
                         -          Hã?
                         -          Anda tranqüilo do meu lado, mas corrige a postura. Fica mais ereto. Vai, pergunta.
                         -          Tá, vou acertar. Na tua sala tem uma ruiva...
                         -          Laura.
                         -          É, ela mesma. Ela tem namorado?
                         -          Ela namorava um cara do colégio militar. Eu lembro que ele veio aqui vê-la um dia. Um tremendo otário. Acho que ela terminou, ela não fala mais dele. Por quê? Ta a fim dela?
                         -          Estou.
                         -          Vai lá e fala com ela.
                         -          Ah qual é Lucca. Falar é fácil.
                         -          Você é tímido?
                         -          Não, mas não quero tomar um fora.
                         -          Quer que eu fale com ela?
                         -          Dá para dar esta força?
                         -          Dá, claro. Amanhã eu falo, beleza? Agora chega de descanso e vamos ao que interessa.
                         -          Vamos.
               Enquanto Christiano retoma o treinamento, Bruna continua absorta e procurando por um olhar de Lucca que, infelizmente para a tímida morena, nem se volta para ela.
               Graças ao empenho de Lucca e ao mérito do esforço de Christiano ele crava um Axel perfeito no finalzinho do treino. O rapaz termina o movimento e cumprimenta Lucca num sincero aperto de mão. Para Lucca fica também a satisfação de, mesmo sendo Chris um adversário em potencial num futuro, saber que ajudou alguém que parece estar se tornando um grande amigo seu. Realmente a adolescência é a fase em que se formam as amizades, mesmo com pequenas disputas em alguns momentos, mas que nada interferem naquelas que se tornam ou podem vir a se tornar sólidas relações afetivas.
               Numa relação sincera de amizade todos acabam ganhando. Neste caso em especial, Chris obteve um amigo capaz de intermediar sua aproximação à ruiva Laura de modo a não ficar numa situação chata caso tenha uma negativa da menina. A própria Laura, nova personagem nesta nossa história, por poder conhecer um bom rapaz e deixar para trás a tristeza que o ex namorado lhe trouxe. E Lucca e Bruna. Mas porque os dois se até agora o que aconteceu foi Lucca ter deixado de lhe dar a mesma atenção do treino passado? Bem, Chris é da sala de Bruna e para felicidade da jovem, ele lhe diz que Lucca vai esperá-la no final da aula do dia seguinte para fazer-lhe companhia até sua casa.
               É como eu disse, amigos são pessoas mais que importantes na vida de todos nós. E começam assim, primeiro ajudando no esporte, depois na paquera e no futuro quem sabe em que mais um amigo pode se fazer presente na vida de nossos adolescentes?



Crônicas Adolescentes Texto 3

 
Léo Rodrigues
Enviado por Léo Rodrigues em 06/03/2010
Alterado em 09/12/2015


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