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Mundial de Clubes - É o Mengão de novo em ação.

 
            O que move um jogador de futebol dos dias de hoje? A estabilidade financeira. Mas nem todos pensam assim. Que o diga Pataca, o xodó rubro-negro. A recusa de uma proposta milionária do todo poderoso Milan foi estampada em todos os jornais do Brasil e Europa. Pataca não aceitou ser negociado com o time italiano, pois queria disputar o mundial de clubes por seu time de coração, o rubro negro carioca, e tentar uma vaga na seleção. Um sonho apoiado e compartilhado por sua noiva Márcia.
            Assim sendo, o Mengão chega a Tóquio com ares de favorito a fazer a final com o clube que o pretendia, o Milan. Até porque, o atual campeão, o Boca Juniors da Argentina, está na chave do clube italiano, mas sua fase não o aponta como obstáculo aos europeus.
            Antonio, o técnico do Flamengo, que fez barba, cabelo e bigode no Brasil e na América, ganhando todos os campeonatos que disputou, se prepara para o maior vôo de sua carreira: tentar conquistar o titulo mundial de clubes levando o Flamengo mais uma vez ao topo do mundo. O difícil é conter a euforia dos torcedores e a ansiedade de alguns jogadores, mas ele sabe que em campo pode contar com a garra e a força da camisa, afinal de contas, o Flamengo tem atributos para fazer uma grande campanha: garra, vontade, técnica e tradição. Com toda certeza será um mundial de arrepiar.
            O primeiro desafio é contra o Los Angeles Galaxy, o time americano campeão pela Concacaf. Jogo truncado, o Fla esbarra numa retranca colossal. É o respeito imposto pelo melhor time da América do sul. O primeiro tempo termina sem gols. A torcida arco íris no Brasil faz festa, até porque o Brasil está dividido em duas: a do Flamengo e a dos anti-Flamengo. No vestiário Antonio paga uma geral para o grupo.
                    -          Cadê o time que destroçou o Vasco na final da Libertadores? Sumiu? Morreu? Cadê a raça, porra? Pataca tu não andou em campo. Será que aquele zagueiro que ta colado em você é o melhor do mundo? Se livra dele. Eu quero ver raça lá em cima, muita raça. Nossa torcida só exige isso. Vamos lá.
          Os dois times sobem para o segundo tempo. A saída pertence ao Galaxy, que rola a bola. O Flamengo aperta e rouba com Pataca, ele rola para Abel que lança na direita para o The Flash. Zé Carlos mata a bola, dribla seu marcador e cruza. Ele, sempre ele, Pataca, sobe mais que a zaga e cumprimenta a galera. Gol do Flamengo. A torcida comemora e se enche de esperança imaginando que agora o time vai deslanchar e golear para ganhar moral. Ledo engano. A inspiração do time acaba aí e o jogo termina neste insosso um a zero.
          Segundo jogo. Flamengo X Kashima Antlers. O time japonês é o representante do país sede por ser seu atual campeão nacional. Num jogo um pouquinho melhor os brasileiros vencem por dois a zero, mas não convence. A torcida arco íris se anima, pois acredita que na final, que será disputada entre o Mengão e o todo poderoso Milan, o time que queria ter Pataca em seu elenco, irá atropelar o rubro negro carioca como fez com o Boca Juniors, o atual campeão mundial, ao emplacar um quatro a zero fenomenal, fazendo com que eles voltem para o Brasil com o rabo entre as pernas como um certo tricolor carioca ficou depois da final da Libertadores alguns anos atrás.
          Flamengo e Milan. Um jogo para entrar para a história. Dois rubro-negros. Apenas um conquistará o mundo. Qual deles? O rubro negro do apoiador francês Delain ou o rubro negro do matador Pataca? Noventa minutos para que o mundo descubra.
          A partida começa com o Milan tentando imprensar o Flamengo em seu campo de defesa. O Mengo se segura como pode com Vágner, o barreira humana, mostrando porque é também titular da seleção brasileira, mas ele não faz milagres o tempo todo. Delain recebe na entrada da área tira Tonhão da jogada, tira também Tavares e solta uma pancada, Vágner se estica todo, mas não alcança, indefensável. Gol do Milan. O placar eletrônico informa agora Milan um Flamengo zero.
          No Brasil o pequeno Lucca e Léo, seu pai, não acreditam no que vêem na TV. Um Flamengo acuado, apático, acossado em seu campo de defesa, sem forças para tentar algo. O Milan envolve o time da Gávea por completo e sem demora faz o segundo gol. Bola nas costas de Zé Carlos, Piranghi, o camaronês, domina e cruza. Delain faz de cabeça o segundo dele e do Milan. Léo escuta os foguetes. A torcida arco íris comemora. Com dois a zero para o Milan o titulo parece ficar mais distante do Brasil. O primeiro tempo termina com uma vantagem enorme para o time italiano.
                    -          Pai, não é o Flamengo.
                    -          Eu sei filho. Ta faltando raça. O time está sem raça.
                    -          Será que se eu pedir a São Judas Tadeu ele ajuda pai?
                    -          Filho, ele nunca me desamparou, mas o time está tão mal que eu acho que ele não vai sequer se dar ao trabalho de olhar o jogo.
                    -          Eu vou pedir assim mesmo.
          Lucca se ajoelha e, pondo suas mãos em posição de oração, começa a pedir.
                    -          São Judas Tadeu, o senhor que sempre que pode ajuda o Flamengo, ajuda eles a ter raça. Só isso meu santinho, eu só queria ver eles jogando com raça. Se tiver que perder, que seja de pé, ta? Ave Maria, cheia de graça...
          Léo se emociona com a atitude do filho. O pequeno, tão inocente, pede apenas para ver o time jogando com raça. Comovido, ele ajoelha ao lado do filho e o acompanha na oração.
          No Japão, no mesmo instante, Pataca sente algo estranho. Primeiro um calafrio, depois uma sensação diferente, uma estranha disposição tomar conta de seu corpo. Ele olha para o lado e vê Vágner balançar a cabeça e olhar para ele de forma estranha.
                    -          Sentiu isso Pataca?
                    -          Senti Vágner.
          Pataca faz sinal para o time se reunir no centro do campo.
                    -          O que nós viemos fazer aqui? Ganhar um título? Não parece. Cadê a nossa raça? Esquecemos no Brasil? Estes caras já estão nos zoando. Olha lá, tão rindo à toa. Vamos mostrar para eles o que é o Flamengo. Vamos mostrar a raça. Chegou a hora do Milan enfrentar o verdadeiro Flamengo. Vamos lá.
          O time vibra com Pataca e parece estar pronto para transformar o jogo nestes quarenta e cinco minutos finais. O xodó murmura algumas palavras para si mesmo.
                    -          E principalmente, eles vão ver quem é Pataca.
          São Judas Tadeu nunca abandonou o Flamengo e, com certeza, não deixaria de atender um pedido tão singelo de uma criança. Um câmera dá um zoom em Pataca, testando o aparelho, e se assusta ao ver que o xodó rubro negro tem uma estranha luz sobre sua cabeça, como se os céus o abençoassem. Ele esfrega os olhos e quando olha novamente a luz não está mais lá. Pelo menos não aos seus olhos.
          Vai começar o segundo tempo com saída de bola para o time da Gávea. Pataca rola para Arthur. Começa o último tempo do mundial de clubes. Quarenta e cinco minutos para a consagração do clube que conquistará o mundo.
          O Flamengo voltou ligadão no segundo tempo com uma marcação sob pressão encurtando os espaços do time italiano. Abel rouba a bola no círculo central. Ele entrega para Eduardo que empurra na direita para Marquinhos. Ele domina, levanta a cabeça e manda no meio para Santana que de primeira lança em profundidade para a corrida do The Flash pela direita. O norueguês Yonk sai na marcação, mas o lateral brasileiro lhe dá um corte seco deixando-o estatelado no chão e cruza rasteiro para o meio da área. Pataca entra enchendo o pé. Goooooooooooooooooooooooool do Flamengo. Pataca. O xodó da galera diminui o placar para o Mengo. Era tudo que o Mengão precisava para incendiar a final. O Mengo continua vivo na decisão. O placar diz Milan dois Flamengo um.
          A praça da apoteose no Brasil vira uma festa. Os torcedores que foram assistir ao jogo pelo telão cantam e vibram com o rubro negro carioca. Entoando sua canção de incentivo que diz que “Eu sempre te amarei, onde estiver estarei, oh meu Mengo, tu és time de tradição, raça amor e paixão, oh meu Mengo” a torcida tenta impulsionar o time do outro lado do mundo. De moral cheia e ânimo renovado no Estádio Nacional de Tóquio o Flamengo vai para cima de novo.
          Aquele torcedor amigo de Léo não quer nem ver o jogo. Ele prefere torcer abraçado a seu velho radinho de pilha, seu amigo de muitos vitórias e bem poucas derrotas, acompanhando o locutor.
                    -          Piranghi domina e lança para Delain que bate de primeira. Vááááágner. O barreira humana opera mais um milagre em Tóquio. Poderia ser o terceiro do Milan. Ele cede um escanteio providencial evitando a ducha fria que se abateria no time. Escanteio para os italianos cobrarem. Pessoti cobra e Vágner segura firme na pequena área. O barreira humana tem pressa e arremessa a bola na ponta esquerda para Pataca. O xodó domina e avança. Com um drible de corpo ele deixa Giulianni para trás e toca no meio. Militão domina e empurra para Abel. Ele abre na esquerda para Marquinhos, que domina, coloca a bola entre as pernas do marcador e é derrubado. É falta. Falta para o Mengão na esquerda. Dali Militão bate com força e Abel vai no jeito. Pataca tá na área, Tonhão também. Trinta do segundo tempo. Grande chance para o Mengão. O juiz autoriza a cobrança. Militão correu. Uma bomba. Bate na barreira e sobra para Santana que alça na área buscando Pataca. O xodó domina, bate cruzado, guardou. Goooooooooooooooooooollll do Flamengaço. Pataca. Pataca. Pataca. Um golaço. Do Mengo. Do Brasil. Ta lá no fundo do barbante do goleiro Fozzi. O Mengo faz mais um. Fozzi pra você já era, o Pataca vai pra galera. O coro come no Japão e o placar diz: Mengão, queridão, na malhação, dois, Milan também dois.
               Na casa de Léo, o pequeno Lucca vibra abraçado com seu pai.
                    -          Deu certo pai. São Judas me ouviu, o time ta jogando com raça.
                    -          É filhão. Ta com cara de Flamengo e gosto de título. Canta com o pai: Oooooô, vai pra cima dele Mengo. Oooooô, vai pra cima dele Mengo...
          Dando sua contribuição, Léo e Lucca cantam juntos em casa, vibrando na mesma sintonia do time que está em campo defendendo as cores do mais querido. Deixar o urubu chegar numa final em igualdade de condições é pedir para morrer. Deixar o Mengo empatar um jogo que estava decidido é entregar o título ao urubu. E o Mengo vai para cima. Tem quinze minutos para decidir antes das penalidades máximas. O Fla aperta o Milan. Domina o campo, a bola, o jogo e a torcida japonesa. Os brasileiros que foram pro estádio no Japão empurrar o time festejam e incentivam. E só dá Flamengo. Agora quem se vê apertado é Fozzi, o goleirão italiano, que se vê obrigado a atuar como um homem elástico, se esticando de tudo quanto é maneira para evitar o gol do título para o Flamengo. É Pataca, é Arthur e até Tonhão já tentou e o goleiro impediu. O tempo passa. O time italiano já faz cera no intuito de levar o jogo para os pênaltis. Será mais honroso disputar os pênaltis do que perder um jogo que estava ganho no tempo normal. O Mengo não quer saber de pênaltis e vai pra cima. Antonio substitui Santana. Ele tira um homem do meio e põe um atacante. Moisés entra para jogar no meio da zaga italiana. Com um metro e noventa e dois, o Deus de Ébano de Petrópolis, como é chamado pela torcida, é o típico trombador, um verdadeiro tanque de guerra, que Antonio lança em campo a fim de liquidar a fatura.
                    -          Quarenta e dois minutos e o jogo continua quente. O Flamengo aperta. Moisés luta como um gladiador dando e recebendo cotoveladas e chutes na área e o juiz fingindo que não vê nada. Pataca está exausto, o xodó fez tudo que pôde, mas o placar não muda. Nem falta a favor do Flamengo o juiz quer dar mais. O Mengão vem de novo com Abel, ele avança, dribla o primeiro, o segundo, faz fila e recebe uma entrada violentíssima. Os jogadores do Flamengo gritam e na pressão o árbitro marca a falta. Os italianos cercam o juiz e uma pequena confusão se inicia. Tonhão sai da zaga e vai tirar satisfações com Yonk. O clima fica tenso. Quase sai pancadaria. O juiz distribui cartões amarelos para os dois lados. A falta é perigosíssima para o Fla.
          No Brasil o torcedor do radinho ouve, desesperado, o locutor narrar.
                    -          Dali o melhor a cobrar é o Militão, mas eu acho que quem vai cobrar é o Abel.
                    -          Olha Luiz, o Abel bate bem na bola, mas tá meio distante para ele. Será que ele consegue?
                    -          Acho que não Jorge. Acho que pela distância e pelo que o Fozzi vem fazendo só com São Judas Tadeu ajudando.
                    -          São Judas Tadeu acabou de descer no gramado. – diz o comentarista Washington.
                    -          Ta lá preparado Abel para a cobrança da falta. Deve ser o último lance do jogo. O juiz ta louco para acabar a partida. Se Abel marcar é fim de papo. O Milan não terá forças para um empate. Ele vai autorizar. Vamos lá. Quarenta e cinco. Vai ser mesmo o último lance. O juiz autorizou. É Abel pra bola, guardou, é campeão. Gooooooooooooooooooooooolllllllllll, do Flamengaço, na hora de acabar o gol do título, do título, do título, Abel, Abel, Abel, o título na hora de acabar é do Mengão. Quarenta e seis. Raaaaaaaala, rala, rala, rala Milan, barato bom, barato bom é do Mengão, Abel. Parecia com a mão. Washington falou que São Judas Tadeu desceu no gramado. O Abel preparou, na cobrança, no ângulo, miliméééétricamente batida. O gol do título. Abel vai pra história eterna do Flamengo. O juiz agora tá pronto pra acabar. Mengão três, Milan dois.
          A Praça da Apoteose que já era uma festa vira um verdadeiro carnaval. O foguetório se espalha pelo Rio de Janeiro. A torcida comemora enquanto o Milan dá uma nova saída somente para o juiz pedir a bola e decretar o fim do mundial de clubes. O Flamengo chega novamente ao topo do mundo. Conquista o mundo o mengão. O Brasil inteiro vira uma festa. Uma festa Rubro negra. A torcida levanta o caneco junto com Pataca. O xodó regeu o time nesta final consagradora. O Mengão assume de novo seu lugar de direito no topo do mundo. Confirma nos anais da história que título do Mengo se conquista assim. Com muita raça e muita garra. O Flamengo, Time de tradição, raça, amor e paixão sabe a receita perfeita para se conquistar um título. É assim, exatamente assim.


Léo Rodrigues
Enviado por Léo Rodrigues em 20/01/2009
Alterado em 02/05/2010


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