“Alô?”
“Jonas? É a Priscila, meu amor.”
“Oi gata. Tudo bom?”
“Poderia estar melhor.”
“O que houve?”
“Além da saudade que estou de você? Tô precisando levantar uma grana e só você pode me ajudar.”
“Resolveu voltar ao trabalho, é?”
“Bem, por uns meses apenas. Se você não se importar.”
“De forma alguma. Quer passar na minha casa hoje?”
“Às nove tá bom?”
“Perfeito.”
Priscila desliga o celular e olha para Ramos.
“Muito bom. Bela atuação. Digna de um Oscar.”
“Poupe-me de suas gracinhas, Ramos.”
“Como eu dizia, bela atuação, mas Jonas não caiu na sua história. Ele vai armar para você, Priscila. Só que eu preciso pegá-lo em flagrante.”
“E…?”
“E nós vamos agir da seguinte forma…”
No mesmo instante, Jonas, após desligar o telefone com Priscila, disca para outra pessoa.
“Pereira?”
“Fala, Jonas.”
“A loura tá armando alguma coisa.”
“E daí?”
“Às nove, hoje, em minha casa. Vamos acabar com este problema.”
“Certo. Às oito e meia eu chego lá.”
“Fechado.”
20h20min.
“Você tem certeza que sabe atirar, garoto?”
“Eu servi o Exército, Ramos. Aprendi um pouco.”
“Ótimo. Se o bicho pegar, atire em tudo que se mexer e corra.”
“E você?”
“Eu me viro. Eu não vou poder sair de lá sem pelo menos uma prova concreta contra Jonas.”
O telefone de Max toca.
“Oi, Sandra. Sim, também estou. Hoje? Hoje não vai dar. Posso te ligar amanhã? Certo. Um beijo. Tchau.”
“Sandra, né? Você vai ter que decidir tua vida, garoto.”
“Do que está falando, Ramos?”
“Do teu coração. Ou fica com a loura belzebu ou com a morena, seu anjinho, na sua vida.”
“Anjinho? Seu filho da puta, você grampeou meu telefone?”
“Claro. Como eu poderia confiar em você sem te conhecer bem? Sua escolha é difícil. As duas são lindas. Mas lembre-se: Priscila não presta.”
“Disso eu sei. Mas tem algo com ela que me puxa para sua vida.”
“O perigo, garoto. Mulheres perigosas são atraentes. Quer um conselho? A professora é mais centrada e com certeza ama você. Esquece a loura.”
“Por que você acha que eu deveria seguir teu conselho, Ramos? O conselho de um matador do P.I.?”
“Você é um garoto bom e eu não quero que você passe pelo que eu passei tempos atrás. Olhe.”
Ramos levanta sua camisa e Max observa quatro cicatrizes.
“Eu tomei estes quatro tiros para defender uma mulher que não merecia. Sabe qual foi minha sorte?”
“Não.”
“Eu tenho uma puta de uma mira e alguém lá em cima gosta de mim. Eu só tinha uma bala e a acertei bem no meio da testa de Angus. Não cometa o mesmo erro que eu, Max. Pense. No fundo do teu coração você não quer mais a loura. É a professora que você quer. Aliás, você sempre quis a professora, garoto.”
“Você me monitora desde que eu cheguei ao P.I., não é?”
“É sim. ‘O único amor que nunca se extinguiu ou extinguirá no meu peito é o seu.’ Quer maior prova de que você quer a morena?”
“É. Talvez você esteja certo.”
“Hum, oito e meia. Hora de partir, garoto. Boa sorte.”
“Para você também, Ramos.”
20h50min. Priscila toca a campainha da casa de Jonas.
“Chegou cedo, querida. Mudando os hábitos?”
“Só um pouquinho, meu garanhão.”
“Entre. Quer beber algo?”
“Hum. Que tal uma taça de vinho?”
“Ok.”
Jonas dá uma olhada demorada no rosto da loura e segue até o bar a fim de pôr o vinho para Priscila.
A loura consulta seu relógio. O combinado é fazer Jonas falar o suficiente para se incriminar e, quem sabe, mostrar-lhe provas até as dez. São nove e cinco. Ela tem cinquenta e cinco minutos para obter êxito e cair fora dali com Max antes que Ramos precise agir.
“Jonas, dá para irmos direto ao ponto?”
“Que ponto, minha cara?”
“Os produtos. Os compradores continuam os mesmos. Minha lista ainda é quente. Preciso saber se o material ainda é de primeira.”
“Calma, menina. Você está muito afobada. Vamos curtir o vinho primeiro.”
Na escuta:
“Ramos, é o Max. Está ouvindo? O filho da puta sacou o lance. Ele está enrolando a Priscila.”
“Calma, garoto. Ela sabia que isto poderia acontecer. Ela sabe o que fazer. Lembre-se: você só aparece após o sinal.”
Casa de Jonas.
“Jonas, eu estou desesperada. Não tenho tempo para pensar em sacanagem. Se meu pai descobre o desfalque que dei nele, estou frita.”
“Nervosa? Não devia.”
“Ah não? Anda, Jonas. Me passa o que puder. Eu tenho dois dias para levantar a grana.”
“Está certo, mas antes tem um amigo meu que quer lhe falar.”
“Quem?”
Um homem magro, com pouco mais de um metro e oitenta, entra na sala com uma pistola apontada para Priscila.
“O que significa isso?”
“Cala a boca. Levanta. Anda.”
Pereira revista Priscila e encontra a escuta. Ele joga o aparelho no chão e pisa para quebrá-lo.
“Viu, Jonas? Sua menina queria te foder.”
“É, parece que sim. Mas agora quem vai se foder é ela.”
“Do que está falando, Jonas? Eu posso explicar.”
“Não precisa.”
Jonas engatilha sua pistola e aponta para a cabeça de Priscila.
“O que é isso, Jonas? Eu te amo. E a nossa história juntos?”
“Nossa história acaba aqui.”
Na escuta:
“Ramos, acho que descobriram a loura. A escuta ficou muda.”
“Calma, garoto. Vamos aguardar mais um pouco.”
“Não, Ramos. Eu vou entrar. Não posso deixar que aconteça algo com ela. Fui eu quem a colocou nisto tudo e vou tirar.”
Max sai do furgão da escuta, sacando sua pistola, e corre em direção à casa de Jonas.
“Max, fique aí. Maldição! Este garoto vai pôr tudo a perder. Contenção, todos a postos. Eu vou entrar. O bicho vai pegar.”