Boate Sunshine. Barra da Tijuca. Dizem que o primeiro show um cantor nunca esquece. É justamente isto que Kaíque poderá comprovar daqui a exatos dez minutos. Seu estilo, que vai desde rock progressivo, semelhante ao grupo Evanescence, até as melodias românticas lhe abriram as portas da boate.
Julio, o posudo dono da boate, resolveu apostar no talento do jovem cantor. Ele, que possui o toque de Midas, como dizem os que o conhecem, vê um futuro promissor no rapaz, diferentemente do que expôs sua filha Mônica. A jovem e bela ruivinha foi totalmente contra a ideia de seu pai, o que deixou Kaíque muito triste e irritado. O porquê disto? Os dois jovens estudaram juntos até terminarem o ensino médio. Mônica sempre foi apaixonada por Kaíque e ele por ela, mas a timidez da adolescência impediu que se declarassem. Não obstante a isto, uma intriga os afastou e fez a chama do amor quase se extinguir. Eu disse, quase.
Onze da noite. Hora do show. Kaíque sobe ao palco sob os olhares curiosos e perscrutadores dos jovens no salão.
“Boa noite galera. Meu nome é Kaíque e eu vou tentar dar uma animada na noite de vocês.”
Kaíque percebe que Julio o observa pela janela do escritório. Na pista, Mônica solta uma agulhada no rapaz.
“Esta eu pago pra ver.”
“Aceito a aposta gatinha.”
De imediato Kaíque dedilha sua guitarra e no mais puro estilo Evanescence inicia seu show. De cara a empatia com o público fecha um contato excelente e em resposta a pista começa a fervilhar. Os jovens começam a curtir e a gostar do som do rapaz, enquanto Mônica o observa com olhos brilhantes e sua alma radiante, embora ela não queira admitir.
Emendando uma música a outra e alternando estilos, Kaíque vai dominando a noite na boate e amolecendo o duro, porém doce, coração da ruiva.
Por volta das duas da manhã ele interrompe o show.
“Bem galera, a última da noite. Minha saideira é uma homenagem a uma bela jovem.”
Primeiro a galera protesta pelo fim do show, para depois vibrar com suas palavras: uma homenagem a uma bela jovem. Kaíque diz isto e fita os olhos em Mônica, que após a segunda música já soltara o corpo ao som da melodia e o admirava mais, só que ao ouvir tais palavras ela remonta ao passado, vira as costas e se encaminha para fora da pista, mas é interrompida pelo músico.
“Eu fiz esta música há seis anos atrás, para uma menina que estudava comigo. Uma ruivinha que já era linda naquele tempo e está muito mais agora. Esta música foi feita para você, Mônica.”
A ruiva estremece e se volta na direção de Kaíque com os olhos brilhantes e marejados. Suas amigas começam a mexer e brincar enquanto no palco Kaíque segue entoando a canção romântica. Os casais na pista dançam com os rostinhos colados. Quem ainda não estava com ninguém acabou conseguindo uma companhia para dançar. A música contagia e estimula. O clima romântico quase se faz tangível. Kaíque realmente tem talento, tanto como cantor quanto como compositor.
Após as últimas melodias e sob uma chuva de aplausos ele desce do palco e caminha na direção de Mônica. A jovem se recompõe e torna duras as suas feições. Ela fala primeiro.
“Você ganhou a aposta.”
“É, acho que sim.”
“O que acha que merece?”
“O que diz minha música. O amor da minha vida pela eternidade ao meu lado.”
“Procure a tonta da Rosana então.”
Dizendo isto Mônica vira as costas e tenta sair, mas tem sua mão segura por Kaíque.
“A música não foi feita para ela. Foi feita para você.” – ele diz chegando seus lábios ao ouvido da jovem.
“Mentiroso.”
“Você nunca me ouviu dizer que a música era para ela. Esta música foi feita com o coração. Eu entreguei meu coração a esta música e esta música a você.”
Mônica se vira e encara Kaíque.
“Como vou saber, seis anos depois?”
“Pergunte ao seu coração.”
“Ele não ouviu a música.”
“Se não ouviu porque você treme?”
“Frio.”
“No verão?”
“Ar condicionado.”
“Suando frio?”
“Dancei muito.”
“Tremor na voz?”
“Cansaço, cantei com você, digo, cantei muito.”
“Olhos marejados?”
“Como os seus estão.” – diz ela amolecendo.
“Dúvidas?”
“Mais nenhuma.”
“Se minha música é sua…”
“Seu coração também é.”
“Não me abandone ruiva.”
“Não me decepcione. Por favor.”
Kaíque põe a mão no rosto da bela ruiva e lhe dá um beijo apaixonado. De súbito ele sente uma mão em seu ombro. É Julio, o pai de Mônica e dono da boate. Meio sem jeito ele olha para o empresário sem soltar a mão dela.
“Meu rapaz, você realmente tem um futuro promissor.”
“Obrigado.”
“Cuide bem da minha filha enquanto eu cuido da sua carreira.”
Kaíque apenas aquiesce com um gesto de cabeça, enquanto Mônica o abraça. Toda história de amor possui um final feliz, mas esta história está apenas começando e muito, muito longe de acabar.