Azíria. O mundo paralelo à Terra que guarda os segredos místicos da existência. Em meio a suas histórias e lendas, vampiros, lobisomens e magos coexistem há milênios, ora em relativa paz, ora em guerra brutal.
No meio de toda esta existência, a lenda da rainha feiticeira não só está prestes a acontecer como também todas as outras histórias ligadas a ela, e uma destas, a aparição do ser reconhecido como Seyan, aquele que não precisa renegar sua origem para deter em si o poder místico de Azíria, surge na figura do vampiro renegado Alaran.
Em seu primeiro combate contra Aviran, o mestre de todos os vampiros, Alaran não só conseguiu sobreviver como infligiu ao seu antigo mestre uma derrota aviltante. E ele sabia que isso não iria ficar barato. Por conta disso, o Seyan, sabendo que os magos não tomariam partido em sua batalha vampírica e tendo certeza de que os lobisomens, embora nutrindo um ódio sem precedentes contra os vampiros, nunca aceitariam lutar a seu lado, resolveu reviver não uma lenda, mas uma história antiga de seu mundo. Graças à ajuda de seu irmão, o Akarys Jayn, Alaran encontrou o antigo livro do Necromante Rashag e invocou para lutar a seu lado a Legião de Targal, os Dez, as crias do inferno que um dia caminharam não só pelo reino de Azíria como pela própria Terra.
“Você sabe o que fez, não sabe, Alaran?”
“Era isto ou ver Azíria dominada por Aviran.”
“E após a batalha? Se vencermos, mudaremos de problema. Deixaremos de nos preocupar com Aviran para nos preocuparmos com os Dez.”
“Eu os invoquei, Jayn. Antes que eles fujam ao meu controle, eu sei o que fazer para impedir que repitam o que fizeram no passado.”
“Se você falhar, o inferno recairá novamente não só em Azíria como no Paralelo Terra.”
“É por isso que você não vai para a batalha. Se eu falhar, você é o único que pode reverter isso.”
“Você enlouqueceu? Eu nunca tinha visto um Seyan. Depois vi você, um Seyan, tornar-se um Necromante. E agora quer que eu vá pelo mesmo caminho?”
“É isto ou a destruição de tudo. O que você prefere?”
Chegando aos limites de Grainol, o reino obscuro dos vampiros, Alaran, seguido pelos Dez, se vê frente a frente novamente com Aviran, o mestre vampiro, e seu exército, pronto para a batalha. Ao ver os Dez, Aviran sente pela segunda vez em sua vida o frio do medo lhe tomar a existência, mas mesmo assim ele se mantém firme. Não é à toa que ele se tornou o vampiro mais poderoso de Grainol. Sem uma palavra, ele levanta a mão e comanda o início do ataque de suas hordas.
Alaran e os Dez aguardam enquanto o exército de Aviran acelera sua cavalgada nos Áuspios, encurtando a distância e se aproximando do alcance de combate. Os vampiros lutam por sua existência, por seu mestre e pela promessa de tomada do Paralelo Terra, mas muitos que estão à frente na primeira onda refreiam suas montarias ao ver que a história que eles conheciam apenas pelos relatos dos antigos anciões está materializada ali. Os Dez. A Legião de Targal.
A Legião de Targal, conhecida como os Dez, é composta das piores bestas que o inferno já concebeu: a Aswang Mira, o Djinn Heibak, Hel, a guerreira guardiã do reino dos mortos e seu cão Garmr, o casal Astrazel e Goliael, a Succubus e o Inccubus do inferno, a Ghoul Lazak, um Raiju, um leão cujo corpo é formado por relâmpagos, uma Banshee e Apep, uma serpente cuja lenda diz que ela e o deus Rá travaram batalhas épicas no passado mitológico egípcio.
Os Dez não precisam ser incitados por Alaran para o combate, pois sua sede de sangue e sanha assassina já o fazem por ele. Comandados por Hel, a guerreira de armadura nórdica, os Dez partem em direção ao exército de vampiros para deflagrar, pela segunda vez na história de Azíria, a chamada Batalha dos Condenados. A história é conhecida pelos vampiros de Grainol pelos velhos manuscritos e por dois anciões que viveram à época, mas não participaram da contenda, pois ninguém sobreviveu à primeira.
O choque de forças entre os Dez e a primeira onda de vampiros não dura mais que cinco minutos. O horror e o medo se alastram pelas demais fileiras diante da visão do ataque dos Dez, mas os vampiros das ondas seguintes, antes dos mestres vampiros comandados por Aviran, já esperavam por isso e enviaram os mais fracos para testar o poder do adversário. Agora descobrem que nada do que lhes foi relatado fazia jus à verdade. A Legião de Targal será invencível para eles, como foi para seus ancestrais, mesmo quando estes lutaram ao lado de magos e lupinos. Um dos mestres se dirige a Aviran.
“Grande Mestre. Eles são muito mais poderosos do que nós. O que faremos?”
“Os enfrentaremos, Rizak.”
“E se não formos capazes de vencê-los?”
“Morreremos.”
Aviran diz isso e incita seu Áuspio à linha de frente. Se for perecer em batalha, ao menos tentará levar o maldito Seyan Alaran com ele.
Com as ondas seguintes avançando, o grupo de mestres circunda a contenda e se aproxima do Seyan, que já aguardava por uma tática como essa. Ele sabia que precisaria enfrentar alguns dos grandes antes que os Dez dessem cabo do exército e retornassem, não em seu auxílio, mas no rastro de sua própria natureza destrutiva. Ele os trouxe pela Necromancia, mas jamais acreditou ter controle total sobre eles. Nem Rashag teve. Antes que os cinco grandes e Aviran se aproximem, Alaran utiliza seus poderes e, com duas bolas de fogo poderosas, abate os dois primeiros mestres. Restam três e o grande mestre.
Os três restantes e Aviran se lançam num ataque coordenado para impedir que o Seyan use sua magia. Alaran entra em combate corpo a corpo com dois deles enquanto ergue uma barreira de chamas que impede a passagem do terceiro e de Aviran. Mesmo sendo mais jovem, sempre foi mais hábil, e quando Lontak e Aviran transpõem a barreira, ele já está decapitando o segundo mestre. Sem esperar, relâmpagos brotam de seus dedos e atingem Lontak, queimando-o até a morte.
“Nos encontramos de novo, renegado.”
“Sim, Aviran. E será nosso último encontro.”
“Será sim, Alaran. Eu morrerei, mas serei o vencedor.”
Com essas palavras, Aviran dá as costas a Alaran e corre em direção à batalha. Os Dez dizimaram seu exército, como ele sabia que aconteceria, e agora se voltam para ele, o último vampiro no campo. Ele sorri. Hel percebe sua intenção. Algo que ela própria já havia planejado desde que retornara.
Alaran sabia que teria de impedir os Dez de tentar trazer de volta Rashag, o Necromante que se tornou um Lich para jamais ser morto por eles e ser restaurado por Hel quando chegasse a hora. E ela só precisa do que se aproxima agora: o corpo de um vampiro ancião poderoso o suficiente para resistir ao ritual.
Alaran tenta agir, mas sua magia é aparada pelo Djinn segundos antes do salto de Aviran para a morte. Hel atravessa o vampiro com sua espada e se volta para Mira, que entoa três palavras de poder. O corpo estremece e chamas o consomem. Um portal se abre por poucos segundos, o suficiente para que dele emerja o esqueleto vivo envolto no manto do Lich Necromante Rashag.
“Eu sabia que este dia chegaria, meus guerreiros fiéis.”
“Bem-vindo, mestre. Quais são suas ordens?”
“Destruir tudo que encontrarmos em Azíria e depois destruir o que encontrarmos no Paralelo Terra.”