21h45min. Problemas.
“Fala logo, Priscila. Para quem você está trabalhando? Para quem você ia me entregar?”
“Para ninguém.”
Pereira desfere um potente soco no rosto da loura.
“Ai!”
“Vamos, cadela. Abre o bico. Ele não merece todo este sacrifício.”
A loura cospe o sangue na cara de Jonas.
“Péssima atitude.”
Quem bate agora é Jonas. Três socos na boca da loura, uma rasteira e, em seguida, ele pisa em seu pescoço.
“Fala! Eu vou te matar! Se falar você sofre menos. Faaala!”
Priscila apenas chora e reza para que o maldito Ramos ou seu amado Max cheguem para salvá-la. A loura deveria ter mais fé, pois Deus ainda olha por ela. Um tiro, e Jonas cai no chão, acabando com a pressão em seu pescoço.
Mais que depressa, Pereira dispara na direção da janela e corre para os fundos da casa. Priscila, ainda recuperando o fôlego, ouve um baque surdo no chão e, em seguida, duas mãos a levantam. É Max.
“Você está bem, Priscila?”
“Com você estou.”
“Seu rosto…”
Max sente uma pontada no coração e as lágrimas vêm aos seus olhos. O rosto de Priscila está muito machucado. Ela passa a mão no rosto dele.
“Não fique assim. Eu entrei nesta porque quis.”
“Se eu não tivesse te entregado ao Ramos…”
“Morra, sua maldita!”
Por um momento, Max e Priscila se esquecem completamente de Jonas. O canalha, mesmo baleado, ainda tem forças para atirar na bela loura. Ato reflexo, Max se projeta à frente de Priscila e recebe o tiro no peito. Ramos, que entrara pelos fundos e já havia matado Pereira, acaba de descarregar sua arma em Jonas. Max cai no chão.
“Nãããããããããooooooooo!!! Max, não!”
Priscila se joga sobre o corpo de Max. Seu desespero é plangente.
“Não, Max! Você não pode morrer!”
“Contenção, é o Ramos. Eu preciso de uma ambulância. Repito, preciso de uma ambulância urgente. Agente ferido.”
“Não, meu amor. Fique comigo.”
“Acalme-se, Priscila. Sai de cima dele. Ele tem que respirar.”
Ramos afasta Priscila e se abaixa a fim de saber se Max tem pulsação. Tem, menos mal. O rapaz balbucia algumas palavras e Ramos se aproxima de seus lábios para ouvir.
“Co… conseguiu as provas?”
“Sim, garoto. Tudo resolvido.”
“E…?”
“O quê?”
“E Priscila?”
“Está livre.”
“Bom.”
“O que ele disse, Ramos?”
Max levanta a mão e faz sinal para que Priscila se aproxime. A loura encosta seu ouvido na boca do rapaz.
“Viva… sua vida.”
O rapaz desmaia justamente no momento em que a equipe médica adentra o local. Ramos puxa a loura para fora da casa. Ela, em prantos e desesperada, abraça Ramos. O agente, apesar de ser um homem duro, não a repele.
“Ele vai ficar bom, guria. Acredite.”
“Ele disse… ele disse para eu viver a minha vida.”
“Sim, você poderá viver sua vida, Priscila. Está livre. Com a morte de Jonas e Pereira, eu não preciso nem do seu testemunho.”
“Como eu vou viver minha vida sem Max?”
“Você acredita em Deus, garota?”
“Sim.”
“Então reze para que ele fique bem.”
Três dias depois. Num hospital na Barra.
“Como está, garoto? Pronto para outra?”
“Estou quase. Mas prefiro continuar com meu serviço.”
“Você atira bem. Não quer treinar para ser um agente? Tem sangue frio…”
“Não é minha praia, Ramos. Prefiro continuar auxiliando vocês de frente para meu computador.”
“Ok. Você quem sabe, garoto.”
“Posso entrar?”
Uma bela morena está parada à porta do quarto. É a jovem professora Sandra. O anjo da vida de Max.
“Claro, Sandra. Entre.”
“O que houve com você, meu amor?”
“Ah, bala perdida. Sabe como é o Rio de Janeiro.”
“Desculpe só ter vindo hoje. Estava na Região dos Lagos com minha mãe e só soube do que tinha acontecido com você ontem à noite.”
“Sem problemas. Sandra, este é um amigo meu. Anderson Ramos.”
“Prazer.”
“O prazer é meu, jovem. O Max fala muito de você.”
“Espero que bem.”
“Bem demais. Garoto, vou nessa.”
“Certo. A gente se vê no trabalho.”
“Espero que o mais breve possível. Você é um bom profissional e uma boa pessoa também. Fique bem.”
“Tchau, Ramos.”
“A Priscila já veio te ver?” — questiona Sandra.
“Não sei. Eu estava sedado.”
“Já decidiu sua vida, Max? Vai aceitar o trabalho em São Paulo?”
“Não sei, Sandra. Minha vida está muito bem estruturada aqui. Eu tenho você aqui.”
“E a Priscila.”
“Mas se eu for, não terei ninguém.”
“Se você for e quiser, eu vou com você.”
“Vai?”
“Vou. Vou com você aonde você for.”
“Tem certeza, Sandra? Não seria fácil o início de vida lá.”
“A gente come arroz, feijão e ovo, desde que esteja junto.”
“A decisão não é fácil. Eu preciso de um tempo para pensar.”
“Saiba que estarei ao seu lado.”
“Eu sei.”
Sandra dá um beijo apaixonado em Max. Ao abrir os olhos, o rapaz observa Priscila parada no meio do quarto com um buquê de rosas na mão. Sandra percebe que precisa sair do quarto.
“Vou deixar vocês conversarem. Eu sei que você precisa.” — ela sussurra no ouvido de Max.
“Obrigado, Sandra. Por me entender.”
“Me liga?”
“Sim.”
“Oi, Sandra.”
“Tchau, Priscila.”
“O que ela fazia aqui, Max?”
“Eu estou bem, tá, Priscila? Obrigado.”
“Eu queria conversar com você.”
“Eu também. Precisamos decidir nossas vidas.”