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Textos

O Amaldiçoado!!!

 
                         - Porque quer ficar me contando histórias, mago?
                         - Para você entender o que está querendo. Ser imortal não é simples como você pensa. Primeiro escute-me e depois tome uma decisão definitiva, Caçador.
                         - Eu já tomei minha decisão, mas vou escutar o que tens a me dizer.
                         - Melhor assim, Caçador.
               Sarator inicia o relato de uma história ocorrida nos primórdios da vida na terra. Mais tempo do que a humanidade como se conhece. Uma história do tempo dos filhos de Adão e Eva, os irmãos Caim e Abel.
               Logo após Eva cometer o sacrilégio de ceder a tentação da serpente e comer do fruto proibido, tiveram eles que abandonar a terra e seguir em frente na dúvida da nova vida, uma vida mortal e, com certeza agora, imersos na certeza de que seus corações não eram mais totalmente protegidos do pecado.
               Trabalhando e tentando viver como poderiam a partir de sua nova situação, Adão e Eva, na perpetuação da espécie humana tiveram filhos, Caim e Abel.
                         - Eu conheço esta história, mago. Caim matou Abel.
                         - Nada de pressa, meu nobre amigo. Deixe-me prosseguir.
               Muitas são as histórias sobre o dissídio entre os irmãos que resultou no primeiro homicídio da história da humanidade, mas poucas pessoas sabem sobre a influência maligna de Lúcifer. Tanto Caim quanto Abel trabalhavam de Sol a Sol para ter em casa uma vida senão farta mas sem necessidades junto a seus pais. Com o ardil da serpente que é, Lúcifer passou a inspirar Caim e fazê-lo enxergar que sua mãe e seu pai gostavam muito mais de Abel. Que Abel era o filho mais amado e mais abençoado. Insuflando a cólera no peito a cada dia que Abel prosperava. Caim só não se deu conta que parara de prosperar no momento que começara a invejar o irmão e a estimular em seu peito somente os piores sentimentos. Vingança, inveja, ódio.
               Voltando-se em suas orações para Deus, mas não sendo sincero, e não trabalhando para conquistar, pareceu-lhe não ser atendido pelo Senhor. E aí aconteceu o que Lúcifer queria. Ele teve espaço, dado a ele não por Deus, mas pelo coração de Caim, para chegar e conquistar o que ele precisava.
               Estava Caim a trabalhar na lavoura e a reclamar e a insultar a Deus quando a serpente se aproximou. Vendo a cobra, Caim se sobressaltou e preparou-se para ceifar-lhe a cabeça com a foice quando a cobra ergueu-se à sua altura e falou:
                         - Trabalhas demais e não recebes reconhecimento nem de tua família nem daquele que se considera seu Deus.
                         - Quem é você? Nunca vi serpente falar. És o demônio.
                         - É bem verdade que tenho este nome, mas eu reconheço teu valor, Caim. Eu reconheço tuas habilidades e teu esforço.
                         - Mentes.
                         - Porque mentiria? Seu pai e sua mãe só dão valor a Abel. O teu Deus só dá valor a Abel. E eu, que te dou valor, sem nada pedir em troca, sou repelido por ti? Pense Caim, porque estaria eu aqui falando contigo se não me importasse? Estaria eu aqui?
                         - Não sei.
                         - Além disso. Sua mãe me ouviu no passado. E graças a me ouvir, hoje existem você e seu irmão.
                         - Um irmão maldito.
                         - Sabe porque sua mãe gosta mais de Abel do que de você? Porque ela vê nele a figura da remissão dos erros dela e vê em você os erros que ela cometeu.
                         - Como assim?
                         - Você prospera Caim?
                         - Não.
                         - Abel prospera?
                         - Sim.
                         - Quer que eu te diga mais alguma coisa? Ela vê no filho querido, não só a remissão dos pecados como também a fortaleza da velhice dela. Como você irá cuidar deles se não tem prosperidade? Isto também mostra como o seu Deus só se importa com Abel. Você quer que sua mãe veja você como a fortaleza dela?
                         - Quero.
                         - Quer prosperar?
                         - Quero.
                         - Então o único jeito é tirando do teu caminho aquilo que o bloqueia.
                         - Abel.
                         - Exatamente.
                         - Mas como?
                         - Bem, enquanto ele for vivo, tu viverás à sombra dele. Ele deve sumir.
                         - Vou matá-lo. E assim conquistarei meu lugar junto de minha mãe e meu pai. E a vida eterna que sempre nos foi prometida por Ele.
                         - A vida eterna, Caim, eu posso dar-te, se assim o quiser. Tu não vais voltar a cultuar um Deus que te virastes as costas, vais? Achas certo?
                         - Tu podes me dar a vida eterna?
                         - Sim. E tu precisarás apenas trazer-me um cálice do sangue de teu irmão.
                         - Assim será.
               Caim, sem pestanejar, preparou-se para por em prática seu plano sórdido. Espreitou o irmão Abel e deu cabo de sua vida. Como pedira a serpente, Caim levou-lhe um cálice com o sangue de seu irmão Abel até onde a encontrara mais cedo naquele dia.
                         - Extirpou a vida daquele que só lhe fizera ser o segundo?
                         - Sim, e aqui está o cálice com seu sangue.
               Tomando a forma humana, a serpente tomou-lhe o cálice das mãos e dando um talho em seu próprio pulso deixou seu sangue escorrer e cair em seu interior misturando-se com o sangue de Abel devolvendo-o logo em seguida a Caim.
                         - Como prometido eu lhe darei a vida eterna. Beba do cálice, pois do meu sangue e do sangue de seu irmão você conquistará a vida eterna.
               Sem um minuto de dúvida Caim sorveu todo o líquido do cálice. Com o estrondo de um relâmpago a ribombar Caim sente algo como o fogo do inferno comer suas entranhas. Contorcendo-se de dor Caim rola de um lado para o outro no chão enquanto Lúcifer gargalha ante sua mais nova obra.
               Após os minutos de agonia que antecederam sua transformação Caim se levanta. Ele sente que seus dentes, mais precisamente seus caninos, aumentaram de tamanho e afinaram e agora ele tem sede. Ele pega o cálice que continha a mistura de sangues cujo cheiro o inebria e tenta sorver mais alguma gota do líquido, para só então se dar conta de que algo não está certo.
                         - O que fez comigo, Maligno?
                         - Dei-te o que querias. Querias a vida eterna e eu a dei.
                         - E esta sede que me come as estranhas?
                         - Bem, como você bebeu de meu sangue misturado ao de seu irmão para se tornar imortal, para sobreviver eternamente você terá que se alimentar de sangue humano. Mas isto não lhe será problema, pois eu creio que esta terra em breve estará povoada o suficiente para que tenhas comida o bastante.
                         - Você me enganou.
                         - Negativo, Caim. Eu dei-te o que querias. Viverás eternamente enquanto se alimentardes de sangue humano.
                         - E esta dor que me consome? Só será aplacada com sangue? Como viverei com meus pais?
                         - Isto não é um problema meu. Você queria se livrar do entrave em sua vida que era seu irmão. Eu te mostrei como. Você disse que queria a vida eterna. Eu te dei.
                         - Você me amaldiçoou, maldito. Eu nunca vou ajoelhar-me ante seu nome.
                         - Não precisa. De você eu só quero que aplaque sua sede de sangue e me traga mais e mais seguidores da noite. À propósito, o Deus que você seguia caminha durante o dia deixando a noite para mim. Assim são minhas criaturas, você nunca mais poderá andar a luz do dia ou morrerá.
                         - Melhor morrer a viver como um maldito.
                         - Pense bem, Caim. O quanto você poderá aproveitar deste seu novo dom. Pense nas possibilidades. E antes que pense em se deixar queimar pelos raios de sol, eu não deixarei que isto aconteça, portanto não tente. Você é minha mais sublime criação até agora, assim como nos primeiros dias Deus não abandonou Adão, você acha que farei isto com você? Você vai viver, e muito. Para executar tudo o que tenho planejado para você. Vamos.
               E numa explosão de enxofre o diabo e Caim sumiram da terra.
                         - Você quer dizer, mago, que Caim foi o primeiro vampiro da terra?
                         - Sim, de acordo com manuscritos antigos que hoje só existem no acervo secreto de minha ordem.
                         - Você quer que eu acredite nesta história? Que os vampiros existem eu sei, mas que Caim, filho de Adão, foi o primeiro, é muita loucura.
                         - E um braço de ferro se mexendo não é loucura?
                         - Não vamos fugir do assunto, mago. Porque me contaste esta história? Para fazer-me desistir da ideia de ser imortal? Ou será que Furio me enganou e você não tem poder para isto?
                         - Poder para isto eu tenho sim, Caçador. Eu te contei esta história, primeiro para que tenhas certeza que os seres que caças são obras do demônio realmente e que nossas escolhas fazem a diferença em nossas vidas. A de Caim foi destruída por ele querer a mesma coisa que você quer agora.
                         - Mago, pela tua história eu tenho mais um motivo para buscar a imortalidade. Continuar minha caçada a estes seres.
                         - Tens certeza que é o que queres?
                         - Desde o início, mago. Porque achas que o procurei?
                         - Então eu farei o que desejas, mas nada depois disso será problema meu.
                         - Não se preocupe, mago, eu é que me tornarei um problema para os amaldiçoados desta terra.

 
Léo Rodrigues
Enviado por Léo Rodrigues em 16/03/2012
Alterado em 16/03/2012
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