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Os arautos do inferno!!!

               Trazer Lúcifer do Inferno é uma tarefa possível através de diversos rituais, o que não quer dizer que seja uma tarefa fácil. Por ordem de Lilith, alguns de seus arautos iniciaram os trabalhos para um destes rituais. O que estes arautos não sabem é o que aconteceu com Lilith muito menos que Furio Archetti os está caçando.

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               Roma, o berço do Cristianismo. Quem poderia imaginar que o plano elaborado por Lilith para libertar Lúcifer seria desencadeado justamente nesta cidade, bem debaixo do nariz da Santa Madre Igreja, do Santo Papa e de seus Padres Combattenti? Apenas uma pessoa: Furio “Braccio de Ferro” Archetti. Com uma pequena ajuda de suas técnicas de “convencimento” ele conseguiu que Lilith, a mulher demônio, ou mulher do Demônio, lhe contasse parte de seu plano diabólico com os arautos. Ele só não conseguiu saber mais porque mesmo nas profundezas do inferno Lúcifer consegue agir e ele, vendo que Furio iria destruir a existência de sua rainha, enviou um de seus mais poderosos generais, Aguiadon, o discípulo mais poderoso de Abadon, o destruidor. Num combate atroz entre ele e Furio, somente a força poderosa da fé do padre foi capaz de evitar-lhe a morte.
               Deus responde aos chamados de seus filhos e aqueles que possuem uma fé inabalável nunca são esquecidos. Em meio ao confronto, vendo suas chances de vitória sumirem ante a fúria da Besta, Furio Archetti orou. Orou durante os momentos mais terríveis de seu combate sem esmorecer um minuto sequer e, como Deus nunca dorme, ele ouviu as preces de seu fiel sacerdote e enviou Rhael, a Força Celeste, para salvar sua vida. Furio quase duvidou do que viu, mas ao notar o demônio amedrontado ante a visão de um dos anjos mais poderosos abaixo dos arcanjos percebeu que Deus atendera suas preces.
               Mesmo aterrorizado, Aguiadon enfrentou Rhael até o fim para poder dar a Lilith a chance de fuga que ela precisava. Vivo ou morto ele seria o canal de libertação e fuga da mulher demônio. E ele cumpriu seu papel. Morto.
               Durante o combate entre o demônio e o anjo, Lilith percebeu que o primeiro pereceria e iniciou um cântico ritual, que mesmo presa e selada, com o sangue do demônio certo, a libertaria e a enviaria de volta ao inferno. Exatamente o que aconteceu.
               Após o confronto, Rhael ajudou o padre Furio, que embora muito ferido manteve sua oração o tempo todo a fim de fortificar ainda mais o anjo, levando-o a um lugar seguro e curando-lhe os ferimentos. Ao despedir-se de Furio, Rhael lhe concedeu uma pequena dádiva, enviada por Deus: a capacidade de distinguir a possessão das pessoas por demônios. Se Furio Archetti já era um grande guerreiro com seu braço de ferro, o que esperar agora que ele também pode ver as pessoas possuídas por demônios...

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               De volta aos acontecimentos em Roma, no presente, dois dos arautos de Lilith continuam desencadeando seu plano nefasto. Para libertar Lúcifer de seus grilhões no inferno, a mulher demônio incumbiu seus arautos de conseguir sete virgens numa sequência de idade de sete a treze anos para serem maculadas e ter seu sangue extraído e contido em um caldeirão. Depois de misturado o sangue das virgens, a eles deveria ser acrescido o sangue, os chifres e as patas de um bode preto e colocado tudo para ferver. Depois de bem fervido e misturado, o líquido deve ser retirado e colocado em cinco taças de prata para a segunda parte do ritual.
               A segunda parte consiste em preparar cinco homens, fortes e saudáveis, para ingerir a beberagem. Sua preparação consiste em untar-lhes os corpos com uma mistura de sangue e veneno de cobra, cingir-lhes runas pelo corpo nas partes referentes aos cinco grilhões que prendem Lúcifer: braços, pernas e pescoço. Dar-lhes de beber a infusão e por fim enforcá-los para abrir os grilhões e dar início a terceira e última parte do ritual.
               Com a chegada de um terceiro arauto trazendo um homem santo, um sacerdote de fé inabalável, terá inicio a parte final da ritual macabro. O homem será preso em um altar contendo pequenas valas a serem preenchidas pelo sangue dos três arautos oferecido por eles ao cortarem as próprias gargantas. Após isto, Lilith deverá estar presente para copular com o sacerdote, maculando-o com sua cópula maldita e, enfim, trespassar seu ventre com uma faca sacrificial forjada no fogo do inferno. Ela continuará copulando com o sacerdote enquanto o sangue dos três arautos será sugado para dentro de seu ventre abrindo assim o portal de saída de Lúcifer: o próprio ventre do homem santo. Lúcifer seria, teoricamente, concebido com a força do corpo de um homem de Deus, deturpado, mais ainda assim um homem de Deus.
               E assim como foram ordenados, os arautos prosseguem. Na casa preparada para o ritual, Tuleal acabara de macular a pequena virgem de sete anos e recolher seu sangue no caldeirão quando Azáx entra na casa trazendo a última das virgens necessárias, uma jovem de treze anos.
                         - Demorou Azáx. Pensei que não seria capaz de cumprir sua parte na missão.
                         - Demônio imbecil. Você ficou aqui a preparar os cinco animais e a copular com cada uma das virgens enquanto eu saí para caçá-los. Cale sua boca e continue seu trabalho antes que eu mesmo te envie de volta ao inferno. Kalben já voltou?
                         - Ainda não. Ele é lento assim como você, mas chegará.
               Não dando atenção as palavras de Tuleal, Azáx segue até os fundos da casa onde os cinco homens estão presos e drogados a fim de verificar seu estado. Como pensara estão devidamente prontos com as runas gravadas faltando somente untar-lhes os corpos. Falta bem pouco para o ritual ficar em condições para a rainha das trevas.
               Em outro lugar, mais precisamente em uma das igrejas de Roma, um padre comum, chamado José, termina sua missa. O que o pobre padre não sabe é que ele foi o escolhido por Kalben para ser o receptáculo de saída de Lúcifer do inferno. Observado pelo demônio neste tempo que os três arautos se encontram em Roma, ele foi escolhido por ter exatamente a característica mais preciosa ao prosseguimento do plano: sua fé em Deus é maior que tudo em sua vida. O demônio sorri ao ver o jovem padre fechar as portas da igreja, pois isto significa que ele irá para a pequena casa que se encontra nos fundos. Entrar na igreja para um demônio arauto é uma tarefa quase impossível, mas entrar numa simples casa, bem, isso é muito mais fácil.
               Seguindo até os fundos, Kalben vê o padre passar pelo pequeno portão do quintal e já com seu plano traçado se aproxima do sacerdote.
                         - Com licença, Padre.
                         - Oh, pois não filho? – responde o padre se recobrando da surpresa.
                         - Poderia falar-lhe um minuto? Preciso de uma orientação.
                         - Bem filho. Está um pouco tarde não acha? Poderia me procurar amanhã?
                         - Receio que não padre. Por favor, preciso muito de uma orientação.
                         - Hum, está bem. Vamos entrar.
               Se o padre José fosse um Combattenti, talvez percebesse por experiência que o homem que ele acaba de convidar a entrar em sua casa é um arauto do inferno, mas infelizmente ele não é. Dentro da casa o demônio não perde tempo e atinge o padre a fim de apagá-lo. Já com o padre inconsciente, o demônio rapidamente o coloca no coche do próprio padre, o cobre com algumas mantas para não levantar suspeitas e segue direto para a casa.

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               Um pouco mais tarde naquela noite, o arauto Kalben chega a casa com o padre José.
                         - Tuleal e Azáx preparem tudo para o ritual. Agora com o sacerdote podemos invocar nossa rainha Lilith para trazer mestre Lúcifer a este mundo.
               Liberando sorrisos de felicidade pela missão cumprida, os dois demônios iniciam os rituais. Enquanto Tuleal começa a ferver o sangue das virgens junto com as partes do bode e Azáx começa a untar os corpos dos homens, Kalben segue para fora da casa e recita um chamamento à sua rainha Lilith. Poucos segundos depois quem surge a sua frente não é ela, mas Asaerith.
                         - Asaerith? Onde está minha rainha?
                         - Ela não poderá estar aqui hoje. Recolha tudo e vamos para outro lugar, mais seguro.
                         - Mais seguro contra o que?
                         - Contra mim.
               O arauto Kalben ouve a voz, mas não a reconhece, porém Asaerith sabe de quem se trata. Sua rainha Lilith a avisou e foi bem clara em suas ordens.
                         - Meu arauto me chama, Asaerith, sinal que está tudo pronto. Estou fraca ainda e não poderei me juntar a eles. Sua missão é tirá-los de lá com tudo pronto para outra cidade. Em sete luas eu irei ao encontro de vocês. E lembre-se, você deve proteger tudo e todos do maldito Furio Archetti.
               De fato, pela voz vinda da estrada e mesmo na escuridão, Asaerith tem certeza que se trata do padre Furio. Ela tenta ganhar tempo para que Kalben avise ao demônio Azáx que utilize sua habilidade de criar passagens pelo plano demoníaco para levar tudo a outro lugar.
                         - Você é mesmo habilidoso, Furio Archetti. Como nos encontrou?
                         - Veja meus olhos demônio.
               Ao olhar para a face de Furio, Asaerith percebe a cor dos olhos do padre, eles estão com um tom azulado e brilham em sua direção.
                         - Deus me deu o dom de vê-los. Não há mais como vocês fugirem de mim.
                         - Será que não, mortal?
               Asaerith não deveria subestimar a habilidade de Furio. Ele arremessa um de seus discos no teto da casa. Tuleal sai da casa antes que...
                         - Daemon Signati. (Demônio seja selado)
                         - O que você fez humano maldito?
                         - Nada demais, só prendi seus amiguinhos dentro da casa. E eles não vão conseguir abrir nenhum portal ao plano demoníaco.
                         - Você vai se arrepender. – grita Tuleal e investe na direção de Furio.
               O padre Combattenti já esperava a ação. Ele aguarda até o último segundo para fazer apenas um movimento coordenado. Com a investida de Tuleal, ele se utiliza da própria velocidade do demônio para matá-lo saindo de lado e estendendo sua espada na altura do pescoço do arauto. Fatal. Em seguida ele corre na direção de Asaerith. Esta mulher demônio não é uma guerreira, mas ela tem quem lute por ela. Rapidamente abrindo um talho em cada um de seus braços ela vê seu sangue formar um corpo rapidamente, ou melhor, um de cada filete de sangue. Dois Demonites, não muito fortes, mas suficientemente rápidos para dar trabalho a Furio e permitir que ela se ocupe em tirar o selo do teto da casa.
               Sem perder a concentração ou se abalar, Furio imagina uma situação de ponto futuro: o provável lugar para onde um dos Demonites irá ao se desviar de seu primeiro golpe. Dito e feito. Com o braço da espada, o normal, ele gira a fim de acertar o pescoço do ser demoníaco para vê-lo desviar e parar justamente no ponto que ele esperava. E agora é a vez do Braço de Ferro. O Demonite recebe a violenta pancada e cai no chão com o peito fumegando. Incrédulo ele olha para a fumaça que verte de sua entranha.
                         - O braço é bento, demônio.
               Em mais um movimento, Furio salta por cima do segundo Demonite, evitando-lhe o golpe, cai em cima do outro cravando-lhe a espada na garganta e num giro arremessa sua boleadeira no outro prendendo-o com um selo. Ele olha para o telhado e vê que Asaerith cometeu o erro de colocar a mão no selo. Agora mesmo é que ela não sai de lá, pensa ele e entra na casa.
               Uma vez dentro da casa, Furio se vê atacado pelos dois arautos. As garras de ambos vão passando por ele numa tentativa de matá-lo. Suas roupas ficam em frangalhos, mas elas cumpriram a finalidade de protegê-lo, pelo menos dos primeiros ataques. Um padre Combattenti não usa armadura, como os demais caçadores, pois ela lhes atrapalha. Quando seu braço fica a mostra, Azáx o reconhece.
                         - Você de novo?
                         - Eu de novo Azáx. E desta vez você não vai fugir pelo portal do plano demoníaco.
               Como se agora fosse seu turno de ataque, Furio arremessa duas bolas na direção dos demônios. Bolas feitas de argila com água benta em seu interior. Seus rostos começam a queimar e Furio arremete com seu braço de ferro. Os arautos não duram um minuto. Ele se detém para fazer um desenho no chão e sai em seguida. Agora é cuidar de Asaerith.
                         - Que demônio se deixa prender num selo?
                         - Um demônio que foi uma bruxa em vida e sabe quebrar selos.
               De fato Asaerith não estava presa ao selo, mas estava sim aguardando para por seu plano em prática. Ela rompe o selo e lança um feitiço sobre a casa, mas...
                         - Como assim?
                         - Eu tenho que explicar mesmo?
               Furio arremessa duas adagas nas pernas de Asaerith que cai no solo, totalmente indefesa. Ela ainda esboça o início de um feitiço, mas o Padre a amordaça e a amarra.
                         - Porque vocês acham que lidam com alguém incauto? Eu não ia deixar você quebrar meu selo de graça, demônio. Escute bem, você está amarrada e presa a este corpo. Não adianta lutar. Eu vou soltar os homens que estão lá dentro e vou voltar pra gente conversar. Te aconselho a colaborar.
               Rapidamente, Furio liberta os cinco homens e o Padre José e ordena-lhes que vão embora.
                         - Padre Combattenti obrigado. Vou voltar para a igreja e se você quiser uma comida e uma cama quente sempre a terá comigo.
                         - Não se preocupe Padre. Agora parta daqui sem se deter e não olhe para trás. Nada que acontecerá aqui é para olhos puros como o seu.
               Furio aguarda até que os seis homens saiam dos arredores da casa e vai novamente até Asaerith.
                         - Pronta para conversar? Posso tirar a mordaça?
               Ela balança a cabeça e Furio retira-lhe a mordaça.
                         - Há algum outro plano de Lilith em andamento?
                         - Padre. Eu não vou lhe falar sobre isso, não de graça.
                         - Então eu vou destruir você.
                         - Eu não disse que não falarei, disse que não seria de graça.
                         - Hum. Do que você está falando?
                         - Há dez anos padre, você foi confessor de uma jovem bruxa. – Furio não demonstra, mas se surpreende. Esta jovem bruxa lhe disse uma verdade antes de morrer que você não pode revelar pelo segredo de confissão.
                         - E daí demônio? O que importa para você um segredo de confissão?
                         - Para mim nada, mas para o homem que ela mencionou pode ser a derrocada.
                         - Eu não tenho intenção de prejudicar ninguém demônio.
                         - Você não, mas eu sim. Estou disposta a te revelar o que quiser saber mediante uma simples troca.
                         - Eu não vou fazer um acordo com você.
                         - Nem se eu lhe disser que sou a bruxa da qual você foi confessor e que minha existência no inferno se deve a busca pela alma deste homem que se diz santo, mas é maldito?
                         - Você? Aquela jovem bruxa?
                         - Sim, Padre Furio, eu sou Pia Calegari, a moça enganada que matou a própria filha, se tornou bruxa por amargura e vive no inferno sob o pacto de levar para lá a alma de Enzo Batisti, um padre maldito e mentiroso de sua Santa Madre Igreja.




O Filho do demônio


 
Léo Rodrigues
Enviado por Léo Rodrigues em 09/10/2011
Alterado em 07/05/2020
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