Portal Literário

A entrada para uma nova literatura!!!!

Textos

Azíria

      Olhos cintilantes. Flamejantes. Se aproximando. E rápido. Nunca pensei que existisse isso. Achei que fossem personagens míticos. Mas existe e vem na minha direção. O grito sufocado na garganta pelo medo. Procuro meu crucifixo. Não acho. Acabou. Ele vai me pegar. De repente um uivo. Não acredito. Um lobisomem. Estou dentro de um filme, não é possível.
      O lobo posta-se entre o vampiro e eu, e rosna: Corre, Samara. Deus! Ele sabe meu nome. Corre de uma vez Samara, ele rosna de novo. Esqueço tudo e corro o mais rápido que posso. Escuto o urro da fera, estremeço e corro ainda mais. O que está havendo? Não sei.
      Paro, ofegante. Não agüento mais correr. Deus, não me abandone. O que está acontecendo? É um pesadelo?
          - Não Samara. Não é um pesadelo.
      Caio sentada no chão com o susto. Uma voz que não sei de onde vem, respondendo meus pensamentos. Começo a chorar e a rezar.
          - Não adianta chorar nem rezar Samara. Isto aqui é real. Muito real. Você esta em Azíria. Não se lembra? Não deve lembrar. Você só tinha seis anos quando foi embora daqui. Abantir cumpriu a parte dele, agora é a minha vez.
      Procuro ao redor e não vejo nada. Não há ninguém. Só esta voz na minha cabeça. Azíria. Abantir. Que diabos é isso? Me vejo sentada numa poça d’água gelada num beco escuro em Madureira.
          - Azíria Samara. Azíria. Madureira fica no paralelo Terra. Você está em outro paralelo. É chegada sua hora. Você precisa reivindicar o que é seu. Deve tomar para si o anel de Farah Azíria. Eu sou Amato e irei até você para que em breve você veja este paralelo como ele é. Com o tempo... com o tempo...
          - Samara, Samara. Acorda.
      Acordo. Estou em casa e suando frio.
          - Deus do céu, mulher. Pensei que você tinha morrido.
          - Eu tive um pesadelo.
          - Você estava gelada.
          - Eu sonhei com vampiros e lobisomens.
          - O que?
          - O que?
          - Vampiros?
          - Gelada?
       Loucura. Papo de doidas. Nem eu nem Jéssica entendemos uma a outra. Peço uma água com açúcar. Ela traz. Conto-lhe tudo que sonhei. Ela me conta o que vivenciou também. Apesar do susto ela ri, afinal, estou bem, pelo menos aparentemente.
      No dia seguinte Jéssica cisma em me levar ao médico. Mesmo com toda a resistência e sabendo que vou perder o dia de trabalho, vou. Como eu previra, o medico disse que estou bem, mas solicitou uns exames para tirar possíveis dúvidas.
      Voltamos para casa conversando animadamente. Entramos e vamos direto pra cozinha. Estou com uma fome incrível. Parece que não como há dias. A campainha toca e peço para Jéssica atender.Cinco minutos depois ela volta pra cozinha dizendo que há um tal senhor Otama me aguardando. Otama? Não conheço nenhum japonês ou descendente. Ela diz que ele não possui traços orientais. É loiro, olhos azuis estranhamente escuros, nariz fino, lábios grossos e um sotaque estranho.
          - Pois não?
          - Senhorita Samara!
      Não conheço este sotaque.
          - Sim?
          - Meu nome é Otama. Como eu disse antes, aqui estou.
          - Como disse antes? Como assim? Eu nunca vi o senhor, nunca sequer nos falamos – fico tensa – quem é você?
          - A senhorita pode me emprestar um espelho?
          - Para que?
          - Não há o que temer, senhorita. Um espelho e a senhora entenderá.
      Ele pega um bloco e uma caneta em cima da mesinha do telefone e escreve algo enquanto vou pegar o espelho. Não desgrudo os olhos dele. Estou com medo. Cadê Jéssica, meu Deus? Entrego o espelho a ele. Ele vira o bloco pra mim com o espelho ao lado e manda que eu leia. Congelo e quase não consigo falar.
          - Amato!

Léo Rodrigues
Enviado por Léo Rodrigues em 03/12/2006
Alterado em 03/12/2006


Comentários

Site do Escritor criado por Recanto das Letras