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Crônicas Adolescentes - Patinadoras - Texto 4 


               É sempre bom falar do lado social do esporte. A disciplina, a responsabilidade que se adquire, a integração, tudo isso aliado a benefícios como a saúde, e porque não comentar, a vaidade, que aliás é uma das qualidades presentes nas meninas. Que menina não curte observar que suas formas estão se tornando bonitas, torneadas, sensuais...?
               Nossas meninas da equipe de patinação do Colégio Santos Dumont não são diferentes nem indiferentes à regra. Cada uma delas, além de malhar na academia em busca da melhora e perfeição nos fundamentos da patinação se preocupa em deixar seus belos corpos em formação bem bonitos à fim de cativar os rapazes. Cada menina, normalmente e naturalmente, tem um príncipe eleito, por assim dizer.
               Embora as meninas estejam se aproximando a cada dia mais, algumas amizades ainda continuam meio que à parte. É o caso de Sophia e Rafaela, as duas meninas mais antigas da equipe e amigas inseparáveis. Mesmo sendo sempre adversárias nas quadras, mantém uma relação de amizade que garante uma cumplicidade pontual. Numa amizade como esta, a troca de confidências é inevitável.
               Num pequeno intervalo na malhação na academia, Rafaela se posiciona em frente ao espelho e observa o resultado dos exercícios.
                         - Está narcisista hoje, hein amiga?
                         - Só um pouquinho, Phi. Tem um bom motivo.
                         - Tem? Cravar o Double Mapes é que não é, né? – e a gêmea ri mexendo com a amiga.
                         - Claro que não. Até porque teu pai disse que eu não preciso forçar na malhação para cravar o duplo, pois força e jeito eu já tenho, falta só acostumar o corpo à nova força e configurar.
                         - Então me fala, Rafa, porque você está tão preocupada com exercícios e aparência?
                         - Segredo, Phi. Promete?
                         - Claro, Rafa. Nem pro Lu eu conto.
                         - Ah isso eu duvido, vocês são unha e carne. E você sabe como teu irmão é. Se você não contar ele vai me encher até eu falar. Ele pressente os segredos que você sabe e de quem são.
                         - Somos gêmeos, ora. Mas fala Rafinha, ta apaixonada por quem?
                         - Hum, apaixonada não, mas enamorada.
                         - Enamorada? Parece até as letras de música da sua banda.
                         - Ou um dos textos do seu irmão, e aliás, eu adoro aquele lado romântico dele.
                         - É, ele tem uma veia artística linda. Mas mata logo minha curiosidade, Rafa, quem é o rapaz?
                         - Bem, é o Xande do segundo ano, que é da equipe de natação.
                         - O Xande? Mas ele é o mais gato da equipe de natação. Ele te paquerou?
                         - Paquerar, paquerar, ainda não, mas andamos conversando.
                         - E você não me contou nada?
                         - Ah Phi, eu nem sabia no que ia dar. E foi tudo por acaso, não encana comigo não.
                         - Como aconteceu?
                         - Eu cheguei mais cedo na segunda, lembra? E como você ainda não estava por aqui fui assistir ao treino da natação. O treino tinha acabado de terminar e você sabe como os garotos são. Sempre zoando, brincando entre si. Nesta brincadeira um dos garotos empurrou o Xande, que acabou batendo em mim e derrubou meus patins.
                         - Hum, to começando a entender o que houve.
                         - Bom, ele é educadinho sabia? Pediu milhões de desculpas, pegou a bolsa com os patins e mesmo eu dizendo que estava bem ele continuou preocupado. Até que ele disse que só ia ficar tranqüilo se eu deixasse ele me pagar um sorvete.
                         - Um sorvete? Só?
                         - Só Phi, não começa. Como ele tinha que ir para casa preparar um trabalho de química, ele perguntou se poderia ser outro dia.
                         - O que você concordou, certo?
                         - Errado. Eu disse que não queria e não precisava.
                         - E ele?
                         - Disse que só iria embora depois que eu confirmasse que ia tomar o sorvete com ele como pedido de desculpas e que eu iria me culpar se ele não conseguisse entregar o trabalho e tirasse zero.
                         - Bela tática ele usou. Você, coração de manteiga, que não gosta que ninguém se prejudique por sua causa, não pode recusar.
                         - Eu até tentei, mas ele conseguiu me persuadir.
                         - E...?
                         - Eu dei meu telefone para ele e ele me ligou no mesmo dia.
                         - Sério? E vocês já tomaram o sorvete?
                         - Ainda não. Eu não tive tempo ainda.
                         - Ah, Rafa, você o está enrolando?
                         - Não, eu não tive tempo mesmo, mas disse a ele que ele poderia me ligar quando quisesse.
                         - Deu abertura para ele, né?
                         - Dei. E ele agora me liga todo dia.
                         - Que gracinha. E quando vocês vão tomar o sorvete?
                         - Não sei, mas ele irá ao ensaio da minha banda no sábado.
                         - Ah eu quero estar lá.
                         - E vai estar mesmo, minha amiga não vai me desamparar neste momento. E, além disso, eu quero que você converse com ele para saber se vale a pena eu lhe dar uma chance. Saber se é gatinho, educadinho e não é safadinho.
                         - Quem é que não é safadinho?
                         - Ai Lucca. - gritam as duas meninas, que distraídas não perceberam a chegada do gêmeo.
                         - Então? Quem é o safadinho?
                         - Ninguém.
                         - Phi.
                         - Ninguém Lucca.
                         - Sophia.
                         - Ai, Deus, e agora, vai começar?
                         - É o Xande, Lucca, da equipe de natação.
                         - Ele está te azarando Sophia? Eu mato ele.
                         - Você não mata ninguém seu ciumento. E ele está flertando com a Rafaela.
                         - Eu mato do mesmo jeito. Minha irmãzinha torta não é pro bico de qualquer um. – dizendo isto Lucca abraça Rafaela.
                         - Me larga Lu, não quero que a Bruna fique com ciúmes de mim.
                         - Ah não esquenta não, Rafa. Ele já se encarregou de manter uma distância da Bruna.
                         - Não é nada disso. Nós só concordamos em ir devagar, mas se ela ficar com ciúme da Rafa até que vai ser legal.
                         - Deixa de ser bobo.
                         - Olha só Rafa, eu vou dar uma cercada no Alexandre para saber qual é a dele com você. Pode ser?
                         - Eu tinha acabado de pedir à sua irmã para conversar com ele sábado no ensaio da banda e ver o que ela acha.
                         - Viu? Ser gêmeo tem disso. Sentir o que a irmã gêmea vai fazer e passar-lhe a frente. E fazer melhor que ela, claro.
                         - Você tá tão bobinho, hoje. Bebeu é?
                         - Eu não bebo e você sabe. Estava na casa do André, mas não participei da rodinha de vira vira, não gosto.
                         - Eu sei, Lu, estou mexendo contigo. Vamos agir em duas frentes então, você aperta o Alexandre durante a semana e no sábado eu tiro a prova dos nove se ele serve para a Rafa.
                         - Fechado. Aliás, Rafa, mudando de assunto, como eu sei que você gosta de poemas, te trouxe um.
                         - Deixa eu ver.
               Rafa pega o papel das mãos de Lucca e começa a ler. Cada palavra, cada expressão do texto, é carregado de um romantismo ímpar. E Rafa vê algo mais nas linhas do poema.
                         - Lucca, o poema é lindo. Dá até música, sabia?
                         - Ah, não me zoa. Pode ficar com ele, tá?
                         - Obrigada, Lu.
                         - Disponha. Eu vou malhar um pouco antes de ir treinar, e vocês?
                         - Nós vamos descer. A mãe quer nossa ajuda com a escolinha hoje.
                         - Beleza, vejo vocês depois.
                         - Tchau.
                         - Tchau.
               As duas amigas descem da academia de musculação ainda conversando sobre o belo gato da equipe de natação e Rafaela conta tudo o que ela acha interessante no rapaz e como quer estar em forma, sensualmente falando, para chamar sua atenção. Em dado momento ela faz a pergunta que deixa Sophia vermelha.
                         - E você Phi, não anda interessada em ninguém? – Sophia cora na hora.
                         - Não, não, não. Não tenho interesse em ninguém, Rafa. Olha, a escolinha já começou, vamos equipar e começar a ajudar minha mãe. Vamos.
               Cortando a conversa e deixando Rafaela um pouco intrigada quanto à sua atitude, Sophia senta-se e começa a calçar seus patins. Rafaela percebeu que a amiga fugiu do assunto, mas amizade também é isso: respeitar o espaço um do outro. Sendo assim, ela se junta à sua amiga a fim de ajudar a mãe dela com o treino.
               Que normalmente as meninas se interessam por rapazes que satisfazem as características que elas procuram em alguém isso é fato. Que normalmente elas trocam confidências entre si a respeito, também. Mas tem aquelas que preferem manter seus segredos a salvo bem guardados em seus corações e ao que parece, por enquanto, a bela Sophia prefere manter assim os seus segredos mais profundos. Aqueles que se referem ao seu coração. O porquê disso? Só o tempo nos dirá.
               Definir o que se passa na mente e no coração de alguém é algo imprevisível. Saber o que alguém espera de outrem ou o que se pode oferecer também é difícil. A parte fácil é simplesmente viver. Viver cada momento intensamente. Aproveitar as fases e deixá-las fluir, este é o segredo. Não deixar também pode ser bom. Não aproveitar também pode ser interessante. Tudo depende do ponto de vista. Se Rafaela ou Sophia estão certas, cada uma em sua atitude, não me cabe julgar, mas admiro suas personalidades. Como meninas, tentam viver cada momento à sua maneira e, talvez, já como mulheres maduras, ou quase. Aí está a magia.



Crônicas Adolescentes Texto 5




Léo Rodrigues
Enviado por Léo Rodrigues em 24/06/2010
Alterado em 05/10/2011
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